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Complexo de Jocasta: (também) na TV, sogra é serpente

Jogo de gato e rato entre noras e sogras ganha ares de desenho animado nas novelas 'O Astro' e 'Morde & Assopra' e lança luz sobre uma figura ao mesmo tempo odiada e divertida da dramaturgia. Entenda de onde vem a temida sogra mala e por que ela nunca muda de humor – nem na TV nem no imaginário

Por Mariana Zylberkan
3 out 2011, 09h04

Até os penteados pomposos de Clô Hayalla (Regina Duarte) perdem seu glamour quando a perua da novela das 23h, O Astro, destila seu veneno contra a nora Lili (Alinne Moraes), a quem se refere carinhosamente como “suburbana”. Clô já a acusou de morar de favor na mansão dos Hayalla e desejou sua morte quando Lili sofreu um acidente. O barraco doméstico se repete na trama da sete. Salomé (Jandira Martini) aprontou todas em Morde & Assopra até provocar a separação de seu filho Marcos (Sérgio Marone) e Natália (Carol Castro). A sogra fez até armação para que Marcos flagrasse Natália com outro.

Em comum, além de protagonizar cenas que mais lembram as de vilões de desenho animado, com diálogos tão exageradamente maléficos que chegam a soar cômicos, está o fato de as duas personagens constituírem um dos recursos mais “carne de vaca” para criar conflitos na dramaturgia. O arquétipo da sogra rancorosa só não é mais presente nas novelas que o da madrasta malvada, outro tipo folclórico de peso no imaginário popular e televisivo.

Apesar da frequente aparição na TV, é complexa a explicação para a identificação do público com a imagem da sogra do mal. “O conflito envolve o jogo de poder emocional entre duas mulheres amadas por um mesmo homem, ainda que uma delas seja a mãe. É natural, portanto, que esta base, oriunda das tragédias gregas e proliferada no teatro medieval e, principalmente, no shakespeariano, sirva de recurso dramatúrgico à telenovela”, explica Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana e membro da Academia de Artes e Ciências da Televisão de Nova York.

Alencar conta que o primeiro autor a transportar para a televisão o conflito clássico entre sogra e nora foi Dias Gomes, com a personagem Dona Anunciata (Margarida Rey), na novela Bandeira 2 (1971), que infernizava a vida da nora, Noeli (Marília Pêra) e de seu filho Tavinho (José Augusto Branco). “A despeito de toda a evolução tecnológica, os conflitos emocionais do ser humano praticamente continuam os mesmos desde os tempos bíblicos”, pondera.

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Como prova da ancestralidade desse triângulo quase amoroso entre mãe, filho e nora, aliás, Alencar cita a fonte usada por Freud para nomear um dos mais famosos complexos definidos pela psicanálise. Saiu da tragédia grega Édipo Rei, em que o personagem principal se apaixona pela própria mãe, Jocasta, o nome para o Complexo de Édipo, atribuído a quem tem uma relação mais intensa que o normal com a figura materna.

Anedota – A insistência dos autores em recorrer ao conflito sogra versus nora se baseia num princípios quase anedótico da telenovela: a trama deve espelhar a vida em família para gerar identificação do público. “Nesse sentido, a sogra boa não convence porque se torna inverossímil aos olhos dos telespectadores”, afirma Claudino Mayer, autor do livro Quem Matou? O Romance Policial na Telenovela.

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