Pesquisa afirma que malária chegou à América por meio de navios negreiros
Biólogos coletaram centenas de amostras de sangue humano infectado de 17 países
O protozoário parasita Plasmodium falciparum, um dos causadores da malária em humanos, é originário da África e já se alastrou por todos os outros continentes. Mas, até o momento, não estava totalmente claro de que forma se deu a propagação. Cientistas do grupo de pesquisa em ecologia MIVEGEC, que engloba três instituições francesas, em conjunto com biólogos parceiros de outros países, sugeriram que o parasita atravessou os oceanos por navios durante o comércio de escravos, entre os séculos XVI e XIX. O estudo foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Multiple independent introductions of Plasmodium falciparum in South America
Onde foi divulgada: revista Proceedings of the National Academy of Sciences
Quem fez: Erhan Yalcindag, Eric Elguero, Céline Arnathau e outros.
Instituição: Grupo de pesquisa MIVEGEC, composto por três instituições francesas, e biólogos parceiros de outros órgãos ao redor do mundo.
Dados de amostragem: Centenas de amostras de sangue humano infectado, de 17 países
Resultado: O parasita Plasmodium falciparum
chegou ao Ocidente entre os séculos XVI e XIX, por meio de navios negreiros vindos da África.
A malária é responsável pela morte de mais de 650 mil pessoas todo ano ao redor do mundo, principalmente na África, no Oriente Médio, na Ásia e na Oceania. Estudos recentes já mostraram que o parasita está presente em macacos africanos e que estes animais seriam a fonte da doença. Mas como e quando o parasita teria chegado a outras partes do planeta? A malária teria passado pela Ásia, seguindo os humanos pelo Estreito de Bering, há 15 mil anos? Ou teria chegado à América mais recentemente, direto da África?
Para desvendar esse mistério, os biólogos coletaram centenas de amostras de sangue humano infectado originário de 17 países, que representam toda a área de distribuição do parasita. A análise do material genético extraído dessas amostras levou os cientistas a várias conclusões. Primeiramente, mostrou que o parasita encontrado nas Américas é um parente próximo do homólogo africano, mas, ao mesmo tempo, muito diferente geneticamente do coletado na Ásia. Tal relação sugere que a doença chegou ao Ocidente diretamente da África.
Diferenças – Além disso, o estudo também identificou dois grupos genéticos distintos de Plasmodium falciparum na América Latina. Isto seria resultado de duas rotas de navios negreiros diferentes, uma até terras pertencentes à Espanha – México e Colômbia – e outra até o império português – o Brasil. Cada um desses parasitas é geneticamente mais parecido com sua fonte africana do que um com o outro, o que significa que evoluíram separadamente um do outro ao longo do tempo. De acordo com a pesquisa, 2,7 milhões de pessoas são infectadas pela malária na América Latina, sendo metade desses casos somente no Brasil.
Assim, o trabalho dos cientistas – originários de instituições da França, Angola, República do Congo, Reino Unido, Bélgica, Peru, Venezuela, entre outros países – mostra que a propagação da malária é um evento recente e que ocorreu muito rápido. Esta conclusão, segundo os pesquisadores, destaca a capacidade altamente invasiva do Plasmodium falciparum, fato que deve ser levado em conta nos programas de saúde contra a doença.