‘O Ataque’ e a reunião dos clichês hollywoodianos
A explosão da Casa Branca e o sequestro do presidente como parte de um grande plano maléfico são a base do novo longa de Roland Emmerich, diretor especialista em destruir o mundo -- e a sede do governo americano
Channing Tatum está longe de ser o rei da dramaturgia e não ganhará nenhum Oscar por O Ataque, mas, se continuar nesse caminho, tem tudo para se tornar o novo Bruce Willis dos filmes de ação, implacável e com pinta de galã. Apesar de ser alvo de diversas explosões, tiros das mais diversas armas, mísseis e granadas, o personagem de Tatum mal sofre arranhões e termina o longa precisando só de um banho
O cineasta alemão Roland Emmerich tem obsessões fáceis de serem observadas em sua coletânea de filmes, composta por longas como Independence Day (1996), O Dia Depois de Amanhã (2004), 2012 (2009) e O Ataque, o mais recente deles, em cartaz a partir desta sexta-feira no Brasil. Entre elas, estão as tragédias ambientais que põem o futuro da humanidade em risco, a ameaça de seres alienígenas que querem aniquilar o planeta, o desenvolvimento de armas de destruição em massa que matam em grande escala e a figura mágica do presidente americano, único que pode salvar o mundo de todas essas ameaças — ou que tem a equipe certa para isso.
Na maioria dos roteiros de seus filmes, o fim está próximo, bem próximo. Da Capela Sistina ao Cristo Redentor, ou de cidades inteiras como Nova York e Los Angeles, nada escapa à fúria destrutiva do diretor. Contudo, o lugar mais explorado por Emmerich, em uma eterna relação de amor e ódio, é mesmo a residência do presidente americano, a Casa Branca, a qual já atacou três vezes na carreira. Seu début contra o palacete localizado em Washington se deu na clássica cena de Independence Day em que uma gigantesca nave alienígena manda a construção pelos ares. Depois, foi a vez de um tsunami desaparecer com a residência do presidente em 2012. E agora, no novo O Ataque, a Casa Branca volta a ser atacada — e provavelmente não será a última vez.
Na história, um grupo de rebeldes americanos explode o Capitólio, invade o local e sequestra o presidente, interpretado por Jamie Foxx. Apesar de possuir o maior arsenal bélico do planeta, e a colaboração de órgãos de segurança como a CIA e o FBI, o exército americano não consegue recuperar a sede do governo. Lá dentro, além do presidente e dos caricatos vilões, está um grupo de turistas feitos como reféns, entre eles o imbatível ex-soldado John Cale, papel dado a Channing Tatum. Cale é uma pedra no sapato dos rebeldes e consegue, ao lado do presidente e de sua filha de nove anos, Emily (Joey King), atrapalhar os planos da vilania.
Channing Tatum está longe de ser o rei da dramaturgia e não ganhará nenhum Oscar por O Ataque, mas, se continuar nesse caminho, tem tudo para se tornar o novo Bruce Willis dos filmes de ação, implacável e com pinta de galã. Apesar de ser alvo de diversas explosões, tiros das mais diversas armas, mísseis e granadas, o personagem de Tatum mal sofre arranhões e termina o longa precisando apenas de um banho.
Apesar dos esforços físicos do ator, o filme é um grande pacote de clichês hollywoodianos, com trama fraca e enredo maniqueísta. Nem o drama vivido por pai e filha em perigo, ou os momentos cômicos presentes em poucas falas de Foxx salvam a produção. Os recursos da ação são os mesmos de sempre, com combates extensos, grandes objetos jogados agressivamente em direção à câmera e um excesso enfadonho de bombas, mísseis e qualquer coisa que mate e faça barulho.
Emmerich não inova. No entanto, deve mais uma vez infestar a maioria das salas de cinema no Brasil e no mundo, e alcançar bons números de bilheteria com um público que não se cansa da tríade: explosões, presidente americano sequestrado e, uma consequência que parece óbvia para eles, mundo em perigo. A fórmula é repetitiva e, infelizmente, o resultado também.
‘Invasão à Casa Branca’
Em um enredo idêntico ao de O Ataque, o filme Invasão à Casa Branca (2013) mostra o local sendo tomado por terroristas que mantêm o presidente como refém. Mike Banning (Gerard Butler), um ex-oficial do serviço secreto, está dentro do palacete e se torna a única esperança para salvar o dia.
‘G.I. Joe: Retaliação’
Sob o comando da organização Cobra, os Estados Unidos se tornam uma ameaça nuclear, e os G.I. Joes precisam invadir a Casa Branca para restabelecer a ordem. O filme foi lançado em março de 2013 no Brasil.
‘2012’
No longa de 2009, terremotos e catástrofes naturais destroem boa parte do planeta e cidades inteiras são varridas do mapa, como Nova York, Los Angeles e o Rio de Janeiro. A Casa Branca fica a salvo por um tempo e se torna um abrigo para a humanidade. No entanto, um forte tsunami joga sobre a construção uma base naval que a derruba por completo.
‘Todo Mundo em Pânico 3’
A comédia lançada em 2003, com Leslie Nielsen como presidente dos Estados Unidos, faz uma paródia de várias produções cinematográficas. O enredo principal serve como crítica ao clichê americano, com um ataque alienígena contra a Casa Branca. Em um momento de surto do presidente, que acredita que qualquer pessoa pode ser um ET disfarçado, ele e seu segurança começam a destruir o palacete e a atacar os visitantes presentes.
‘Independence Day’
Gigantescas naves alienígenas se posicionam em lugares estratégicos da Terra. Uma delas está, adivinhe, logo acima da Casa Branca. Após um período de mistério, a espaçonave se abre e dela sai um forte raio de luz que detona por completo o palacete. O filme foi lançado em 1996. Por sorte, o mundo tem a ajuda do capitão Steven Hiller (Will Smith) e do bravo presidente americano (Bill Pullman) para salvar o que sobrou da humanidade.
‘Marte Ataca!’
No filme Marte Ataca! (1996), de Tim Burton, marcianos mal intencionados aterrissam no jardim da Casa Branca e atacam os americanos que esperavam inocentemente um acordo de paz. Jack Nicholson é o encarregado pelo papel de um presidente americano mais estranho do que nunca.