Queda do avião do voo 447 durou 3 minutos e 30 segundos
Escritório que apura as causas do acidente começou a divulgar relatório parcial
Documento confirma que o piloto não estava na cabine quando começaram os problemas
A queda do Airbus A330 do voo 447 da Air France, que ia do Rio a Paris no dia 1º de junho de 2009, durou exatos 3 minutos e 30 segundos até o impacto no Oceano Atlântico. A informação foi divulgada nesta sexta-feira pelo Escritório de Investigações e Análises (BEA) da Aviação Civil da França, que apura as causas do acidente que matou 228 pessoas.
Segundo o relatório parcial, antes que a aeronave caísse, os pilotos observaram duas velocidades diferentes no painel de controle, por menos de um minuto, e uma delas indicava queda brutal de potência. O piloto automático foi então desligado e um alarme soou. Nesse momento, o comandante não estava na cabine, apenas os dois co-pilotos, que iniciaram tentativas de retomar o controle da aeronave. “Vamos lá, você tem os comandos”, disse um deles.
Cronologia: Os momentos que antecederam a queda do Airbus A 330
Exatamente à 1h55, o comandante passa o controle da aeronavave ao segundo co-piloto. “Assuma o meu lugar”, disse, conforme o relatório. Até as 2h01, ele acompanha o briefing entre os dois co-pilotos e a aeronave passa por uma turbulência. “Devemos encontrar outras mais à frente. Estamos na camada, infelizmente não podemos subir muito mais agora porque a temperatura está diminuindo menos rapidamente do que o esperado”, falou o piloto, pouco antes de deixar a cabine.
Pouco depois das 2h08, o nível de turbulências aumenta. Dois minutos depois, o piloto automático é desativado e o piloto volta para a cabine. “No momento do evento, os dois co-pilotos estavam na cabine e o comandante de bordo em repouso. Esse último voltou para a cabine cerca de 1 minuto e 30 segundos após a retirada do piloto automático”, diz o relatório (confira o documento completo). Os pilotos tiveram dificuldades com os controles por mais de quatro minutos antes da queda da aeronave.
Além dessa confirmação, outros fatos novos foram estabelecidos pelo BEA:
– A composição da tripulação, de um comandante e dois copilotos, estava em conformidade com os procedimentos do governo francês. Segundo as normas da Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, sigla em inglês), é obrigatória a presença de quatro tripulantes (dois comandantes e dois copilotos) nas rotas entre Europa e América do Sul. O Brasil assinou o acordo, mas a França não, por isso a presença de três tripulantes em vez de quatro.
– No momento do acidente, a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais. Isso quer dizer que o avião estava em plenas condições de operação: não havia má distribuição de peso e ele voava na altitude permitida
– Houve uma inconsistência, que durou menos de um minuto, entre a velocidade indicada no lado esquerdo – há indicadores de velocidade espalhados pelo avião – e a indicada no ISIS, um instrumento que fornece a velocidade e altitude da aeronave.
– Após o desligamento do piloto automático, a aeronave subiu para 11.500 metros
– O alarme de perda soou, indicando que o avião perdeu sustentação e começou a cair
– As ordens do piloto foram principalmente de elevar o nariz
– A descida durou 3 minutos e 30 segundos, durante os quais a aeronave permaneceu sem sustentação
– Os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação
– Os últimos valores registrados indicam uma queda a 200 quilômetros por hora com velocidade de solo de 198 quilômetros por hora e 16,2 graus de elevação do nariz, mostrando que a cauda do avião foi a primeira parte a bater no mar. Além disso, o avião caiu virado para o Brasil. No total, a queda durou três minutos e 30 segundos
Veja abaixo o momento em que o A330 entrou no meio de uma nuvem cumulonimbus a 11.500 metros de altitude, sob uma temperatura de -42 graus Celsius:
O destino do voo 447 da Air France
O momento em que outros voos desviaram da nuvem cumulonimbus e só o 447 segue na rota original:
Fonte: BEA/Météo-France
Especulações – Desde que as caixas-pretas do voo 447 foram recuperadas, a imprensa do mundo todo deu início a uma série de especulações, ora apontando falha humana, ora problemas mecânicos. E para evitar que mais versões não-oficiais se espalhassem é que o BEA tomou a decisão de divulgar o documento oficial. Contudo, o Escritório reforça que se trata apenas de “fatos” e não de análises sobre o que teria acontecido -daí o relatório ser apenas parcial.
As primeiras análises devem ser apresentadas em um próximo relatório com divulgação prevista para julho. “Só depois de um trabalho longo e minucioso de investigação é que as causas do acidente serão determinadas e as recomendações de segurança serão emitidas, o que é a principal missão do BEA. Elas constarão do relatório final”, informa o órgão.