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CPI: Os senadores que perderam a vontade de ter coragem

João Durval, Ataídes Oliveira e Reditário Cassol constavam na lista a favor da CPI que investigaria o Ministério dos Transportes, mas resolveram voltar atrás. Ataídes desistiu de desistir

Por Adriana Caitano
3 ago 2011, 18h13

Não fosse o recuo de dois senadores nas últimas horas, a abertura da primeira Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do governo Dilma teria sido oficializada. Até a noite de terça-feira, a oposição havia coletado as 27 assinaturas necessárias para criar o grupo que investigaria por 180 dias os desmandos ocorridos no Ministério dos Transportes, revelados por VEJA. No apagar das luzes, porém, João Durval Carneiro (PDT-BA) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO) pediram para sair. Depois foi a vez de Reditário Cassol (PP-RO). Ao ver a péssima repercussão de seu ato, Ataídes desistiu de retirar sua assinatura. Mas já era tarde. O prazo se esgotou e o presidente do Senado, José Sarney, derrubou o requerimento por falta de assinaturas. Os três parlamentares dificilmente admitiriam ter voltado atrás por medo das consequências de figurarem na lista de defensores de uma investigação contra o governo. No entanto, se fossem como Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, poderiam dizer: “Medo não, perdi a vontade de ter coragem”.

João Durval foi governador da Bahia – indicado em 1983 pelo próprio Antonio Carlos Magalhães a sua sucessão – e deputado federal. Aos 82 anos é o nome de maior influência do PDT na Bahia, depois do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Seus filhos João Henrique Carneiro (PP) e Sérgio Barradas Carneiro (PT) seguem os passos do pai na política – o primeiro é prefeito de Salvador e o segundo, deputado federal.

Mas, mesmo com quase 60 anos de experiência como político, o senador ainda se permite cometer certos enganos. Segundo ele, a assinatura a favor da CPI foi consciente, mas depois perdeu a coragem ao pensar melhor, preocupado com o possível prejuízo às votações no Congresso neste segundo semestre. Traduzindo: se tivesse seu nome entre os apoiadores da comissão, correria o risco de ter algum de seus projetos de interesse boicotado.

O senador governista Reditario Cassol (PP-RO), suplente de Ivo Cassol (PP-RO), foi o último a assinar o pedido do PSDB para que a comissão seja instalada. A oposição conseguiu o apoio de 27 senadores para instalar a CPI da Corrupção com o objetivo de investigar irregularidades no Ministério dos Transportes e em outras pastas
O senador governista Reditario Cassol (PP-RO), suplente de Ivo Cassol (PP-RO), foi o último a assinar o pedido do PSDB para que a comissão seja instalada. A oposição conseguiu o apoio de 27 senadores para instalar a CPI da Corrupção com o objetivo de investigar irregularidades no Ministério dos Transportes e em outras pastas (VEJA)

O senador Reditário Cassol (PP-RO), aos 75 anos, havia tido um rompante de cidadania ao apoiar uma CPI para apurar o escândalo já confirmado até pela presidente Dilma Rousseff. Mas, como pai dedicado que é ao filho Ivo Cassol (PP-RO), não só assumiu a vaga deixada pelo titular quando ele adoeceu, como lembrou-se de adotar a posição que Ivo provavelmente tomaria, se estivesse no Senado. E, acima de sua coragem, veio a dedicação paterna.

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Tormento – Já Ataídes Oliveira chegou a relatar as motivações externas para a desistência. Ainda que seja do PSDB, ele é suplente desde maio e por isso foi pressionado pelo titular da vaga, João Ribeiro (PR-TO), a posicionar-se como governista. O PR, é bom lembrar, é o partido que está no centro do escândalo dos Transportes, legenda das estrelas do caso, como o ex-ministro Alfredo Nascimento e o deputado federal Valdemar da Costa Neto.

Nesta quarta, porém, ao ver seu nome circulando como amarelão, Ataídes voltou atrás mais uma vez. A justificativa: ficou “atormentado” por ter quebrado um acordo com o titular em nome da ética. Pediu desculpas ao povo brasileiro pelo tropeço e disse preferir ficar de bem com a própria consciência que com João Ribeiro.

Antes não tivesse assinado a lista na primeira vez. Político de primeira viagem, o empresário provavelmente tinha achado que teria independência para tomar decisões no lugar do senador do PR. Só não sabia que, no Congresso Nacional, a vontade de ter coragem é impessoal e transferível. E da aparente coragem inicial, sobrou apenas a prova de que o tormento de amarelar é maior que o provocado pela omissão.

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