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Caso Isabella Nardoni: relembre o julgamento

Por Da Redação
26 mar 2010, 21h28

Manifestantes na porta do Fórum de Santana, no início do Julgamento: comoção. (Foto: AE)

O julgamento no Fórum de Santana, zona norte de São Paulo, começou na segunda-feira, dia 22 de março, às vésperas do aniversário de dois anos da morte de Isabella Nardoni. No banco dos réus, Alexandre Nardoni, 31 anos, e Anna Carolina Jatobá, 24, respectivamente pai e madrasta de Isabella, assassinada aos 5 anos de idade, na noite de 28 de março de 2008.

Nardoni e Anna Jatobá são acusados de espancar e esganiçar Isabella antes de arremessá-la pela janela do apartamento em que moravam, no sexto andar do Edifício London, na zona norte de São Paulo. Um crime bárbaro que chocou o Brasil e que seria sentenciado no julgamento mais importante da história Justiça brasileira.

Ana Carolina de Oliveira, mâe de Isabella Nardoni, no primeiro dia do julgamento. (Foto: AE)A mãe – O julgamento começou carregado de emoção, com o depoimento de Ana Carolina Oliveira, 25 anos, mãe de Isabella. Convocada pelo promotor Francisco Cembranelli, ela depôs na noite do primeiro dia. Estava visivelmente abalada ao relembrar os detalhes daquele 28 de março.

Contou entre lágrimas a forma como foi avisada por Anna Jatobá sobre o ‘acidente’ com a filha, a sua reação ao ver o corpo da menina estendido no jardim do edifício London, o coração batendo ainda, acelerado, e o desespero ao saber que a filha havia morrido.

Depois retratou Nardoni como um pai ausente, que se recusava a pagar a pensão alimentícia determinada pelo juiz de família, um homem destemperado e agressivo, inclusive com a própria filha. Terminado o relato, Isabella foi mantida no fórum a pedido da defesa, incomunicável. Tormento que duraria até a tarde de quinta-feira, quando o juiz Maurício Fossen, presidente do inquérito, decidiu liberá-la. Uma equipe médica alertava para o péssimo estado psicológico de Ana de Oliveira.

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Liberada, ela deixou o fórum abalada. Não voltaria mais, nem mesmo para ouvir do juiz sentença dada aos acusados de matar sua filha.

O promotor Francisco Cembranelli, durante entrevista coletiva, após mais um dia de trabalho. (Foto: AE)

Os peritos – O segundo dia foi mais árduo, com os depoimentos repletos de termos técnicos de três testemunhas fundamentais: a delegada Renata Helena da Silva Pontes, o médico do Instituto Médico Legal Paulo Sérgio Tieppo Alves e o perito em sangue Luiz Eduardo Carvalho Dórea.

A delegada, que presidiu o inquérito da morte de Isabella, afirmou ter “100% de certeza” da culpa dos réus. Já o legista esclareceu que a menina fora asfixiada e possivelmente jogada ao chão do apartamento ainda viva, antes de ser arremessada pela janela.

Dórea, o perito em sangue, reforçou a tese de que Isabella foi carregada por um adulto antes de ser atirada pela janela do apartamento.

Apesar dos esforços para desmerecer as testemunhas, a defesa não foi capaz de desacreditar o resultado dos laudos tecnicamente impecáveis dos especialistas. O destino do casal Nardoni começou a ser traçado nesse dia, entre termos jurídicos e médicos inalcansáveis para muitos, mas que deixavam poucas dúvidas sobre o envolvimento de Alexandre e Anna Jatobá na morte de Isabella.

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Na quarta-feira, a perita do Instituto de Criminalista Rosângela Monteiro, responsável pelo laudo da cena do crime, acrescentou os elos que faltavam ao demonstrar, com testes de simulação, que Nardoni havia colocado os dois braços para fora da janela, pelo buraco feito na rede de proteção, carregando um peso aproximado de 25 quilos.

Exatamente o peso de Isabella.

Análises na camiseta que o réu vestia no dia do crime não deixaram dúvidas de ele lançou Isabella pela janela.

A essa altura, a defesa via o cerco se fechar. E tentou acelerar os procedimentos para evitar um desgaste maior com os jurados. Na tarde desse mesmo dia, o advogado de defesa, Roberto Podval, dispensou oito das dez testemunhas que havia convocado. Os dois que restaram nada puderam acrescentar a favor dos réus.

A chegada dos réus ao Fórum de Santana. (Foto: AE)

Os acusados – O quarto dia começou com o depoimento dos réus. Alexandre Nardoni chorou diante do júri e negou ter cometido o crime. Em sua versão, reafirmou o que sempre sustentara: subiu ao apartamento com Isabella, acendeu o abajur do quarto dela e a colocou na cama. Então, foi ao quarto dos seus outros filhos e retirou os brinquedos de cima das camas. Saiu do apartamento, fechou a porta, pegou o elevador, desceu, entrou no carro, pegou os filhos e a mulher, subiu.

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De volta ao apartamento, viu que Isabella não estava no quarto. Ele ainda disse que sua cabeça não passava pelo buraco aberto na rede de proteção da janela de onde a menina foi jogada.

Ao perceber o que acontecera, Alexandre ligou para os pais, para os pais de Anna Jatobá, ela ligou para Ana Carolina de Oliveira. Não lhe passou pela cabeça socorrer a filha, ou ligar para o Resgate do Corpo de Bombeiros. Estava em choque, alegou.

Anna Carolina Jatobá depôs na mesma tarde. Negou o crime agitada, atropelando as palavras. Emocionou-se ao jurar que Isabella era como uma filha para ela e ao descrever momentos na companhia da menina. Sua versão dos fatos foi igual à do marido, com uma diferença. Ela afirmou que ele colocou a cabeça no buraco aberto na rede da janela para avistar Isabella no gramado do edifício.

O pastor que tentou defender os réus quase apanhou dos curiosos na porta do fórum. (Foto: AE)Considerações finais – O público, que desde o início marcou presença do lado de fora do Fórum de Santana, aumentou no último dia. Entre os curiosos, muitas vítimas de violência e tragédias familiares compareceram, inclusive a escritora de novelas Glória Perez, mãe da atriz Daniela Perez, assassinada em dezembro de 1992.

Na sexta, dia da decisão do juri, os ânimos estavam exaltados. Um rapaz que tentou defender os acusados em público, na rua, apanhou de alguns manifestantes, que só foram contidos pela polícia.

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Lá dentro, promotoria e defesa fizeram suas considerações finais com direito a réplica e tréplica. Durante sua explanação, o promotor Francisco Cembranelli apresentou uma lista cronológica de ligações telefônicas que comprovariam a presença de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá no apartamento do edifício London no momento do crime.

O promotor tentou atrair a atenção para Alexandre. Num determinado momento, chegou a apontar o dedo em direção a Nardoni, em um tom acusatório. “A única pessoa que não pensou em ligar para o resgate foi o pai”, provocou.

Cembranelli mostrou fotos do quarto da menina no dia seguinte ao crime, tentando demonstrar que Alexandre não colocou a menina na cama, como afirmara. O quarto estava desarrumado, com bonecas e folhas de caderno espalhadas em cima da cama e a janela aberta.

O advogado de defesa, Roberto Podval, começa a perder as esperanças. (Foto: AE)

O advogado de defesa, Roberto Podval, insistiu em criticar os procedimentos da perita Rosângela Monteiro. Confessou também não ter provas para inocentar o casal. Numa tentativa de comprovar a hipótese de que uma terceira pessoa matou a menina, Podval disse que um dos vizinhos do casal, no edifício London, ouviu uma porta batendo um pouco antes de Isabella Nardoni ser jogada do sexto andar do edíficio.

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Durante todo o dia, enquanto promotoria e defesa se alternavam em longas réplica e tréplica, Anna Carolina Jatobá se descontrolou no banco dos réus. Chorando compulsivamente, foi retirada da sala a pedido do juiz Maurício Fossen. Depois voltou.

Às 21 horas em ponto o juiz anunciou uma pausa para o jantar. No retorno, às 22h20, os jurados se trancaram na sala secreta para responder às perguntas e decidir entre a culpa ou a inocência de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.

O número de manifestantes aumentou na porta do fórum no último dia. (Foto: AE)

O veredicto – Às 0h20, o veridicto anunciado. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram considerados culpados da morte de Isabella Nardoni. O juiz Maurício Fossen encerrou o mais técnico dos julgamentos de toda a história da Justiça brasileira às 0h40 de sábado, 27 de março, anunciando as penas imputadas a cada um dos réus: 31 anos, um mês e dez dias para Alexandre Nardoni e 26 anos e oito meses para Anna Carolina Jatobá.

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