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A metamorfose de Gilberto Kassab

Em apenas cinco anos no comando da prefeitura de São Paulo, ele mudou cabelo, peso, roupas e, principalmente, o jeito de falar às pessoas

Por Carolina Freitas
15 mar 2011, 13h03

Gilberto Kassab, 50 anos, chega com 20 minutos de atraso ao galpão no centro de São Paulo. Veio entregar doze caminhões para coleta de lixo na região. Perfilados, 40 funcionários de uma empresa de limpeza o aguardam. Ele cumprimenta correligionários e segue em direção ao grupo de trabalhadores. Aperta a mão de cada um deles. Lá e cá pergunta: “Você torce para o São Paulo, não é?” Conquista adesões à preferência futebolística e comemora.

Depois das formalidades da cerimônia, o prefeito chama ao palco uma das funcionárias, a única mulher. “Você foi mais aplaudida que o secretário de Serviços. Nem vou falar do prefeito”, brinca Kassab. Entrega a ela as chaves dos caminhões e improvisa um talk show. Ao microfone, pergunta o nome, a idade e o bairro onde ela mora. “Quer falar mais alguma coisa?”, indaga. Animada, a mulher agradece aos colegas e ao prefeito a homenagem.

Kassab tornava-se, enfim, um político. Ainda com uma ponta de embaraço, mas, sim, um político. Nesta terça-feira, após a convenção do Democratas, em Brasília, terá o salvo-conduto para a jogada mais ousada de sua carreira: fundar e comandar um partido. O Partido da Democracia Brasileira (PDB) já tem até estatuto, e um time de advogados traçou uma estratégia para colher as obrigatórias 482.894 assinaturas para criar a legenda. O objetivo de Kassab: lançar um candidato de sua confiança à prefeitura em 2012 e concorrer ao governo do estado em 2014. Reportagem do site de VEJA mostra que não é tão fácil tirar um partido do papel.

Na convenção, o DEM oficializará o nome do senador José Agripino Maia (RN) como presidente nacional da sigla, em substituição ao deputado federal Rodrigo Maia (RJ). O encontro acontece no momento em que lideranças tentam controlar a debandada de filiados rumo ao PDB e aparar arestas em nome de uma sobrevida para o DEM, uma das legendas mais à direita no espectro político brasileiro. O novo partido de Kassab, que será anunciado até o fim de março, ficará na centro-esquerda e pode integrar a base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT).

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Metamorfose – São apenas cinco anos na chefia do mais alto cargo do executivo municipal, mas Kassab aprendeu como agir. Desenvolveu técnicas para prender a atenção da audiência e afagar aliados em público. Dia desses, fez enrubescer as faces do subprefeito da Mooca, Rubens Casado, ao dizer em discurso que o colega andava tão falante que parecia “candidato a vereador”.

Aprendeu, em entrevistas, a repetir desde o início frases truncadas, para que fiquem claras quando editadas para rádio e televisão. Mudou a cor do cabelo diante do aparecimento dos primeiros fios brancos. Trocou o castanho claro pelo preto, mantido com ajuda de um xampu tonalizante. Emagreceu e engordou. Emagreceu e engordou. Na luta contra a balança, aprendeu a disfarçar a barriga com coletes e paletós de corte enxuto feitos pelo alfaiate Antonio Pio.

O paulistano venceu o anonimato de quando herdou a prefeitura do tucano José Serra em 2006, de quem era vice. Serra é, até hoje, seu padrinho e mestre na política. À época da substituição, pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que apenas 23% dos paulistanos sabiam quem era Kassab. O quadro nunca o constrangeu. Em visita ao comércio de um bairro da periferia da cidade, meses após tomar posse, pedia licença e se apresentava: “Oi, prazer, eu sou o prefeito.”

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Marketing – Kassab soube usar a situação como um trunfo. Mesmo com o prefeito pouco conhecido, a administração era bem avaliada. A solução foi criar mecanismos para transformar aprovação de governo em votos. E foi o que a equipe de marketing de Kassab fez em 2008: vendeu uma cidade bem cuidada e um prefeito simpático.

A campanha inspirou-se no rosto redondo e nos olhos vítreos do prefeito para criar o boneco Kassabinho, reproduzido em adesivos, placas, desenhos animados na televisão

e até em grandes mascotes nas ruas. As visitas do prefeito a escolas da capital passaram a causar frisson. O jingle estava na ponta da língua de crianças e jovens. Solteiro, o

democrata recebia elogios das mulheres quando saia às ruas. Chegou a ser pedido em casamento por uma animada eleitora.

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Resultado: começou a corrida eleitoral com 13% das intenções de voto e acabou o primeiro turno com 33% dos votos, 52 mil votos à frente da favorita Marta Suplicy (PT). No segundo turno, o democrata derrotou a petista com apoio de 60% do eleitorado. Tudo para confirmar a tese repetida à exaustão pelo democrata durante a campanha: “Como nunca disputei um cargo majoritário, ser desconhecido não é algo que me diminui.” Pelo contrário, só o fez crescer.

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