O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recorreu à ajuda da América Latina pela primeira vez desde o início da invasão da Rússia, em fevereiro. Em uma teleconferência organizada pela Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC), o líder ucraniano pediu nesta quarta-feira, 17, aos governos da região que acabem com o comércio com Moscou e insistiu que os latino-americanos visitem seu país.
“Para acreditar no que está acontecendo, é importante ver. Quero que seus líderes, jovens, venham para a Ucrânia. Para nós é importante que a América Latina saiba a verdade”, disse o presidente ucraniano durante a reunião virtual com acadêmicos, jornalistas e autoridades chilenas.
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Um dos pontos-chave do discurso de Zelensky concentrou-se em como a guerra pulverizou a economia ucraniana. De acordo com ele, o país perdeu cinco bilhões de dólares desde o início do conflito.
Questionado sobre quais medidas os governos latino-americanos podem tomar para ajudá-los, o presidente ressaltou que já existem países que escolheram determinada região ou cidade e enviaram seus jovens e equipamentos para reconstruir escolas e universidades desmoronadas pela conflito.
“Os países latino-americanos podem fazer o mesmo. Escolha uma cidade que goste e venha nos visitar”, acrescentou o chefe de Estado.
Nesse sentido, o reitor da PUC, Ignacio Sánchez, anunciou que um grupo de profissionais está desenvolvendo um projeto de reconstrução da cidade de Irpin, localizada a oito quilômetros de Kiev, capital do país. Parte do plano é construir um memorial para as vítimas da guerra e concluir a reforma da biblioteca pública, segundo Sánchez.
O presidente do Chile, Gabriel Boric e a ministra das Relações Exteriores, Antonia Urrejola, foram convidados para o encontro na Universidade Católica, mas alegaram problemas de agendamento e não participaram.
Boric e Zelensky se reuniram em julho, quando uma bomba atingiu um prédio residencial em Odessa. Na ocasião, o líder chileno disse que a Ucrânia poderia contar com seu apoio nas questões humanitárias.
No entanto, apesar da disposição de Zelensky em estreitar as relações com a América Latina, alguns líderes de nações sul-americanas, como o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e o líder da Nicarágua, Daniel Ortega, declaram apoio à investida militar russa.
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Os temores sobre a ampliação da influência russa sobre a América Latina se intensificaram após o vice-presidente do Comitê de Defesa do Parlamento russo, Alexei Zhuravliov, anunciar, pouco antes do início da guerra, a disposição do Kremlin em instalar armas nucleares no continente, em resposta a um eventual avanço da Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, na Ucrânia.
Aos 175 dias de guerra, Zelensky observou que o conflito, na teoria, começou antes mesmo da invasão em fevereiro. Segundo ele, seria necessário começar a contar os dias a partir da anexação russa da península da Crimeia, em 2014, quando o Kremlin “começou a matar ucranianos por serem ucranianos”.
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O presidente acrescentou que o Kremlin não tem interesse em encerrar o conflito, que já matou mais de 10.000 ucranianos, de acordo com uma contagem do Armed Conflict Location and Event Data Project (Acled), organização não governamental especializada na coleta, análise e mapeamento de crises de dados sobre conflitos.
“Para que os russos entendam que isso tem um preço alto, que serão punidos por isso, é preciso que governos ao redor do mundo cortem o comércio com a Rússia e barrem os turistas que vêm de lá”, disse o líder ucraniano, enfatizando que apenas desse modo a sociedade russa irá começar a pressionar seu governo pelo fim da guerra.