Em um vídeo colocado no Facebook, o americano Scott-Dani Pappalardo, de 50 anos, serra um fuzil AR-15 em dois lugares. A cena, que já teve quase 30 milhões de visualizações e mais de 400 000 compartilhamentos, foi gravada três dias após a chacina de dezessete pessoas na escola Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, Estados Unidos.
O fuzil AR-15 que Pappalardo destrói em seu vídeo é do mesmo tipo usado por Nikolas Cruz, que tinha 19 anos e fora expulso da escola anteriormente. Pappalardo tinha a arma legalmente há 30 anos e é um apoiador da Segunda Emenda — o trecho da Constituição dos Estados Unidos que garante o direito ao porte de armas. Cruz também tinha comprado legalmente sua arma.
No final de fevereiro, Pappalardo decidiu se desfazer do AR-15 para ter certeza de que ele nunca tiraria uma vida. “O direito de portar essa arma é mais importante do que a vida de alguém?” pergunta ele na cena gravada.
Em entrevista por telefone a VEJA, ele explicou como o massacre em Parkland o afetou. “Eu perdi uma sobrinha há 17 anos. Desde então, a morte de uma criança me impacta profundamente. Mesmo quando assisto a alguma coisa na televisão isso me incomoda. Então qualquer tiroteio em escola me afeta muito.”
Pappalardo vive em Nova York, é de família republicana e registrou-se no Partido Republicano aos 18 anos. Em 2016, votou em Donald Trump para presidente. Sua experiência pessoal, contudo, faz com que ele tenha uma opinião própria sobre o controle de armas nos Estados Unidos.
“Não se pode continuar vendendo armas capazes de destruições em massa. Precisamos limitar os recursos ou mudar a tecnologia envolvida para que elas não possam ser usadas em tiroteios em massa. Algo deve ser feito”, diz o americano.
Pappalardo faz parte de uma parcela crescente de republicanos que estão mudando de opinião sobre o direito de possuir armas. Uma pesquisa da CNN feita após o massacre na Flórida apontou que 49% dos republicanos apoiam leis mais rigorosas. Em 2014, esse índice era de 46%.
Sobre elevar a idade mínima para a compra de armas de 18 para 21 anos, Pappalardo não sabe se essa medida reduziria o número de massacres, mas a defende. “Um jovem de 18 anos ainda possivelmente está no Ensino Médio. Não devemos permitir que eles obtenham uma arma”, diz.
Ao cortar seu fuzil, Pappalardo cometeu um crime, pois cortou seu cano abaixo do tamanho permitido por lei federal. Sua arma ainda pode atirar, com menos segurança. Vários donos de armas pelos Estados Unidos seguiram sua atitude e postaram fotos de suas armas cortadas com a hashtag #OneLess, expressão que ele diz ao final do vídeo.
Pappalardo reconhece o erro e pede para não ser imitado. “Se outras pessoas ficaram convencidas de abrir mão de suas armas, então elas devem chamar a polícia, combinar e abrir mão delas apropriadamente”, diz.
O americano contou que recebeu reações negativas ao seu vídeo, mas que as positivas foram em muito maior quantidade. Questionado sobre a reação de sua família, ele disse não se preocupar com isso. “Todos meus parentes acreditam na Segunda Emenda. Alguns deles podem não ter concordado com tudo o que eu fiz e falei, mas eles entendem que foi minha escolha e minha decisão pessoal fazer isso.”
Ele também acha que o problema demorará para ser resolvido. “Há agora 360 milhões de armas de fogo nos Estados Unidos. Qualquer lei agora não afetará as armas que já estão aí. Serão necessárias várias gerações para realmente mudar alguma coisa, mas é preciso começar em algum lugar”, diz.