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Vítimas chilenas pedem ao papa ações exemplares contra abusadores

Três homens abusados pelo sacerdote chileno Fernando Karadima quando ainda eram crianças visitaram o pontífice no Vaticano na última semana

Por Da redação
Atualizado em 2 Maio 2018, 19h39 - Publicado em 2 Maio 2018, 19h37

As três vítimas chilenas de abusos sexuais cometidos pelo sacerdote Fernando Karadima pediram ao papa Francisco “ações exemplares” contra abusadores e encobridores de abusos que desacreditaram a Igreja Católica em todo o mundo. “Esperamos que o papa transforme em ações exemplares e exemplificadoras suas carinhosas palavras de perdão. Se não for assim, tudo o que falou será em vão”, advertiram em um comunicado conjunto.

As três vítimas chilenas  Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andrés Murillo , que passaram quatro dias no Vaticano a convite do papa argentino, reconheceram que nesses dias viram “o rosto amigável da Igreja, totalmente diferente do que conhecemos antes”, quando eram tratados como “inimigos”, disseram.

Decidido a reparar seus graves erros de apreciação nos casos de abusos sexuais na Igreja do Chile, Francisco ouviu por várias horas o drama das vítimas e pediu perdão aos três de forma individual, em nome dele e da instituição. Segundo Cruz, Francisco prometeu levar em conta as sugestões do trio para a luta contra esse problema, que desacreditou a Igreja em todo o mundo.

“Falamos muito, sugerimos muitas coisas. Ele disse que ia rezar, pensar e tomar decisões em curto e longo prazo”, explicou Cruz, de 54 anos, jornalista residente nos Estados Unidos, que se tornou um emblema em todo o mundo da luta contra os abusos sexuais de sacerdotes a menores.

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“Pedimos ao papa que não hesite em puni-los, não por terem cometido um pecado, mas por terem cometido um crime, um crime contra a sociedade”, declarou Murillo, o mais novo deles, de 43 anos, que trabalha com menores vítimas de abusos.

Não se exclui que, entre as medidas tomadas pelo papa, esteja a substituição de vários prelados e, sobretudo, o isolamento de cardeais para abrir uma nova era da Igreja chilena, consciente do dano causado à já deteriorada imagem da instituição nesse país latino-americano.

Prisão para encobridores

“Para mim o maior dano não foi causado por Karadima, mas pelo cardeal Javier Errázuriz, que encobriu por mais de cinco anos esse padre. Ele é realmente um criminoso”, afirmou Hamilton.

Questionados se gostariam que no Chile abrissem um processo penal por pedofilia como o iniciado na Austrália contra o cardeal George Pell, a resposta foi: “Nós gostaríamos (de um processo) contra Errázuriz, bem como contra (o cardeal Ricardo) Ezzati. Todos na prisão por encobrimento”, disse Hamilton.

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Desde que assumiu como papa, Francisco se comprometeu a lutar contra a pedofilia e criou uma comissão para a proteção da infância, que inicialmente foi formada por algumas vítimas, mas que mais tarde a deixaram por questões internas. Apesar desses gestos, as associações das vítimas consideram que a hierarquia da Igreja não está fazendo todo o possível para impedir que os padres abusem sexualmente de menores em todo o mundo.

O convite às três vítimas surgiu após a onda de indignação no Chile gerada pelo papa quando, por ocasião de sua visita em janeiro, colocou em dúvida as denúncias contra Karadima e, em particular, contra o atual bispo Juan Barros. Em uma carta pública no início de abril, o papa argentino reconheceu que estava enganado e que havia sido mal informado sobre as denúncias das vítimas chilenas, um gesto inédito para um pontífice.

Karadima, diretor espiritual carismático da paróquia do Bosque, responsável por formar as classes superiores chilenas, foi condenado em 2011 por ter abusado sexualmente de crianças e adolescentes enquanto dava suas aulas espirituais nas décadas de 1980 e 1990. Mais de 50 padres foram formados por ele, entre eles vários bispos.

(Com AFP)

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