O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fez um pronunciamento depois da sessão final da reunião de chanceleres dos países do G20, grupo das maiores economias do mundo, realizada nesta quinta-feira, 22, no Rio de Janeiro. Ele destacou que, ao longo das duas sessões de trabalho “muito produtivas”, as 45 delegações presentes entraram em consenso unânime a respeito da necessidade da criação de um Estado palestino ao lado de Israel no fim da guerra em Gaza.
“A solução de dois Estados é a única solução possível para o conflito”, disse Vieira na Marina da Glória, local onde o encontro foi realizado na quarta-feira 21 e nesta quinta.
Segundo ele, um “grande número de países” expressou preocupação com o conflito na palestina, especialmente em relação a temores de alastramento aos países vizinhos do Oriente Médio. Entre as principais demandas levantadas pelos chanceleres, está a necessidade de libertação dos reféns sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro do ano passado (135 seguem em cativeiro), e o pedido para liberação imediata da ajuda humanitária para os palestinos em Gaza
“Grande parte dos países também levantou preocupação com o deslocamento forçado de mais de 1,1 milhão de palestinos para o sul da Faixa de Gaza. Muitos se disseram contra operação em Rafah, pedindo que Israel reavalie [a iminente invasão]”, disse ele, referindo-se à cidade tida como último refúgio dos palestinos que abandonaram suas casas no resto do enclave, fugindo dos ataques israelenses.
Vieira também declarou que, na primeira sessão de trabalho, sobre tensões geopolíticas atuais, “vários países reiteraram sua condenação da guerra na Ucrânia, como ocorreu desde 2022, no início do conflito”.
Prioridades do Brasil
O chanceler de Lula também disse que houve unanimidade no apoio às prioridades do Brasil durante sua Presidência do G20, especialmente em relação ao combate à desigualdade e fome. Além disso, informou que “todos concordaram” com a necessidade de uma reforma na governança global.
“Todos concordaram que organizações como ONU, OMC e FMI, entre outras, precisam de reforma pra se adaptarem aos desafios do mundo atual. Todos mencionaram necessidade de mudanças no Conselho de Segurança, principalmente a inclusão de novos membros permanentes e não permanentes, sobretudo América Latina e Caribe e África”, disse ele.
Vieira acrescentou que bancos internacionais e o FMI precisam facilitar o financiamento aos países mais pobres e aumentar a representatividade do mundo em desenvolvimento em sua governança.
Haverá uma segunda reunião de chanceleres do G20, em setembro, à margem da reunião geral do G20. Ela ocorrerá na sede das Nações Unidas, em Nova York, por proposta do Brasil. “É prova não só da importância do Brasil, mas do papel do G20”, disse Vieira, que será anfitrião de um almoço oferecido nesta tarde para os chefes e membros de todas as delegações. Por isso, não respondeu a perguntas da imprensa.
Presidência brasileira
Apenas a fala de abertura do evento, feita também por Vieira, foi transmitida. O resto do encontro correu a portas fechadas.
O evento o Rio de Janeiro é o primeiro da inédita presidência brasileira do bloco que reúne as maiores economias do mundo, posto rotativo que ocupa desde dezembro do ano passado. Sob comando de Vieira, o Brasil traçou três tópicos centrais que pretende seguir:
- Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
- Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
- Reforma das instituições da governança global.
O G20
Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.
O encontro no Rio também contará com a presença de enviados de países convidados: Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal, Singapura, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Mais de 10 entidades também receberam convite, como as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).