O governo da Venezuela chamou de volta o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, e convocou o encarregado de negócios do Brasil em Caracas para “manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras” do governo brasileiro, citando nominalmente o ex-ministro e atual assessor especial Celso Amorim como “mensageiro do imperialismo norte-americano” em um comunicado publicado nesta quarta-feira, 30.
Como a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, está fora do país, o encarregado de negócios da embaixada, Breno Hermann, foi convocado pelo governo de Nicolás Maduro.
Na linguagem diplomática, convocar um embaixador não significa rompimento de relações, mas representa que há uma tensão ou insatisfação de um governo com o outro.
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No documento, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano afirma que Amorim tem emitido “juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e suas instituições democráticas”.
“Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”, diz o texto.
Na terça-feira, Amorim participou de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara para prestar esclarecimentos sobre o posicionamento do país nas eleições da Venezuela, realizadas em 28 de julho deste ano. Segundo ele, Caracas quebrou a confiança do Brasil no processo eleitoral que reelegeu Maduro.
“No caso da Venezuela, houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral, algo nos foi dito e não foi cumprido. Não quero personificar, vamos ver como isso evolui”, disse.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor para um terceiro mandato (2025-2031), decisão ratificada pelo Supremo Tribunal de Justiça, embora sem registros de votação que comprovassem a vitória. Ambas as instituições são acusadas de servir aos interesses do governo.
A declaração do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela segue as duras críticas ao governo brasileiro na semana passada, quando a pasta classificou como “agressão” e “gesto hostil” o veto do Brasil à inclusão do país na lista de parceiros do Brics. Em comunicado divulgado pelo ministro Yván Gil Pinto, a pasta chega a comparar as ações do governo de Luiz Inácio Lula da Silva às da gestão de Jair Bolsonaro.
“Através de uma ação que contradiz a natureza e o postulado do Brics, a representação da chancelaria brasileira, liderada pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Jair Bolsonaro aplicou contra a Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância promovidos a partir dos centros de poder ocidentais para impedir, por ora, o ingresso da Pátria de Bolívar nessa organização, em uma ação que constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil que se soma à política criminosa de sanções que têm sido impostas contra um povo corajoso e revolucionário”, diz o texto.