A maioria dos ursos polares deve desaparecer até 2100, alerta um estudo publicado na revista científica Nature Climate Change nesta segunda-feira, 20. Por conta da emissão de gases do efeito estufa e o derretimento das calotas polares, todas as populações de ursos polares no Ártico poderão enfrentar falhas reprodutivas desde 2040.
O estudo, que examinou 13 das 19 subpopulações de ursos polares do mundo, responsáveis por 80% da espécie, projeta como os animais serão afetados em dois cenários diferentes. No primeiro, em que as emissões de carbono permanecem no nível atual, a população de ursos será limitada às Ilhas Rainha Elizabeth, calota no extremo norte do arquipélago do Ártico no Canadá.
Mesmo no segundo e mais positivo cenário, em que os gases do efeito estufa são moderadamente mitigados a partir deste ano, ainda é provável que a maioria dos ursos polares no Ártico sofra falhas reprodutivas até 2080. Os autores do estudo, da Universidade de Toronto, no Canadá, estimam que restam menos de 26.000 ursos polares, espalhados por 19 subpopulações diferentes no Ártico.
Os ursos polares são incapazes de encontrar alimento suficiente em terra e dependem do gelo marinho para caçar. Sua estratégia é fazer furos no gelo e esperar que focas venham à superfície respirar. Depois, durante os meses de verão em terra ou nadando, eles recorrem às reservas de energia acumuladas durante a temporada de caça no inverno.
Embora os ursos possam passar meses sem comer, sua condição corporal, capacidade reprodutiva e sobrevivência diminuirão se esse período aumentar muito, explica o estudo. No Mar de Beaufort, no sul do Alasca, biólogos registram que as populações encolhem de 25% a 50% nos períodos de pouco gelo. Na Baía de Hudson, no Canadá, um dos habitats mais ao sul, a população de ursos diminuiu cerca de 30% desde 1987. Por isso, o desaparecimento das calotas é diretamente proporcional ao dos animais.
Para descobrir após quanto tempo os ursos atingem seus limites fisiológicos, o biólogo Péter Molnár, líder do estudo, e seus colegas calcularam o uso de energia dos animais em função do número limite de dias sem comida, antes que as taxas de sobrevivência de filhotes e adultos diminuam. Depois, combinaram esses limites com o número projetado de futuros dias sem gelo no mar, para determinar como os animais serão afetados em diferentes partes do Ártico.
Dependendo do nível de mitigação das emissões de carbono, os ursos polares devem começar a sofrer falhas reprodutivas entre 2040 e 2080. Mas, segundo o estudo, é inevitável que essas populações cheguem à extinção até 2100 se gases do efeito estufa não forem drasticamente reduzidos.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Steven Amstrup, cientista chefe da Polar Bears International e co-autor do estudo, disse que a equipe usou uma estimativa cautelosa.
“É importante destacar que essas projeções provavelmente estão do lado conservador”, disse Amstrup. “Os impactos que projetamos provavelmente ocorrerão mais rapidamente do que o documento sugere”.
Segundo o Guardian, o desafio para a preservação dos ursos polares é que, ao contrário de outras espécies ameaçadas, eles só sobrevivem se seu habitat estiver protegido e isso exige um enfrentamento global das mudanças climáticas. O cientista afirma que, após um compromisso com a redução das emissões, leva de 25 a 30 anos para o gelo marinho se estabilizar devido ao carbono já existente na atmosfera.
No meio tempo, o estudo instiga autoridades locais a pensarem sobre políticas de auxílio aos animais, decidindo se os ursos poderão receber alimentos durante os períodos de pouco gelo.