A União Europeia votou nesta quarta-feira, 6, uma proposta que denomina o gás natural e a energia nuclear como fontes de energia “verdes” ou “sustentáveis”, apoiando uma proposta da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, o que gerou críticas de cientistas e defensores do meio ambiente.
As novas regras, que agora precisam ser aceitas pelos Estados-membros, podem liberar bilhões de dólares em investimentos privados e subsídios para projetos dessas fontes energéticas e começam a valer já em 2023. Para ser barrada, 20 dos 27 países precisam rejeitar a proposta, o que é improvável.
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A Comissão Europeia argumenta que o gás natural – combustível fóssil feito principalmente de metano, fundamental nas mudanças climáticas – desempenha um importante papel na transição para a energia renovável, causando a revolta de ativistas climáticos e alguns legisladores.
Normalmente, o gás natural emite menos dióxido de carbono do que o carvão, no entanto, cientistas apontam que o foco deve ser inteiramente no aumento de fontes de energias limpas, além do fato de que apoiar novos projetos de gás apenas prolongará a vida útil dos combustíveis fósseis.
Já em relação à energia nuclear, o principal argumento de defesa é que ela não produz diretamente emissões de carbono, mas os argumentos contrários levantam preocupações a respeito da segurança, que inclui como armazenar os resíduos radioativos produzidos por ela. Além disso, as usinas nucleares são caras e frequentemente prejudicadas por atrasos.
Segundo Bas Eickhout, legislador holandês com assento no Parlamento Europeu, à rede CNN, chamar o gás natural de “sustentável” contradiz os apelos da União Europeia ao resto do mundo para descarbonizar suas economias o mais rápido possível.
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Embora a proposta tenha sido sugerida meses antes da guerra na Ucrânia, ela ganhou força principalmente pelo fato dos países do bloco serem altamente dependentes das fontes de energia da Rússia, proibidas após o início do conflito.
A União Europeia prometeu reduzir as emissões em 55% em relação aos níveis de 1990 até 2030, e se tornar uma economia de carbono zero até 2050. Desse modo, toda a emissão de poluentes será drasticamente reduzida e as que permanecerem serão compensadas, seja usando métodos naturais como plantio de árvores ou tecnologia para capturá-las.
A ativista sueca do meio ambiente, Greta Thunberg, disse por meio do Twitter que a decisão “atrasará uma transição sustentável real e desesperadamente necessária e aprofundará nossa dependência dos combustíveis russos”, completando que a “hipocrisia do bloco europeu é impressionante, mas não surpreendente”.
Grupos como o Greenpeace e a World Wildlife Federation já disseram que planejam ir à justiça contra a União Europeia por causa da nova política.
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“Gás e energia nuclear não são verdes, e rotulá-los como tal é uma flagrante lavagem verde. Isso prejudica o clima e as gerações futuras”, disse a diretora do WWF na Europa, Ester Asin, em comunicado.