Para a Suécia, país que apostou na pacificação ao fim da Guerra Fria e decidiu desmantelar 90% de seu Exército assim que o Muro de Berlim veio ao chão, buscar a salvaguarda da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, virou questão primordial. É, enfim, ferramenta de defesa, de mãos dadas com outros parceiros ocidentais. Os suecos vinham pedindo assento na aliança desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, há dois anos. Ao contrário do que aconteceu com a Finlândia, que tem uma fronteira de 1 300 quilômetros com a nação de Vladimir Putin e teve sua entrada aprovada em poucos meses, a solicitação de Estocolmo vinha esbarrando na má vontade da Turquia e da Hungria (a entrada de qualquer país exige unanimidade de votos dos membros). O entrave com o governo de Tayyip Erdogan foi removido em janeiro, depois que os EUA autorizaram a venda de quarenta caças modelo F-16 para os turcos. Na segunda-feira, sob liderança do primeiro-ministro Viktor Orbán, o Parlamento húngaro finalmente aprovou a admissão da Suécia. Era o “sim” que faltava. O ultradireitista habituara-se a uma desculpa esfarrapada para justificar a demora: a forma pela qual a Hungria era retratada nas escolas do país nórdico. Orgulhoso de comandar uma democracia antiliberal, que persegue minorias, Orbán usou a decisão para sinalizar que pretende vender sempre caro o apoio, caso a União Europeia siga tentando impor sanções à sua administração por desrespeito a direitos civis e restrições ao Judiciário. A sensatez venceu uma batalha, mas outras virão.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2024, edição nº 2882