Ucrânia encontra vala comum com 440 corpos em Izium
A cidade de Kharkiv foi recém-reconquistada pelo exército ucraniano; Zelensky comparou a descoberta ao massacre de Bucha

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de “deixar a morte em todos os lugares que passa” depois que autoridades ucranianas encontraram, na quinta-feira 15, uma vala comum em uma floresta na recém-reconquistada cidade de Izium, em Kharkiv, contendo mais de 440 corpos.
Zelensky comparou a descoberta aos assassinatos em massa de civis nas cidades de Bucha (nos arredores de Kiev) e Mariupol. Ele pediu ao mundo que “responsabilize a Rússia por esta guerra”.
“A Rússia deixa a morte em todos os lugares e deve ser responsabilizada por isso”, declarou. “Os procedimentos necessários já começaram [em Izium]”. Mais “informações claras e verificáveis” devem estar disponíveis ainda nesta sexta-feira, disse ele, convidando a mídia internacional a visitar o local.
Um vídeo de Izium mostrou uma floresta de pinheiros arenosa pontilhada de sepulturas. Cruzes de madeira marcavam os locais. Uma placa manuscrita dizia: “Forças armadas da Ucrânia, 17 pessoas, cidade de Izium, [retirada] do necrotério”. Algumas cruzes tinham números listados – 345, 347, 444. Outras não tinham inscrições.
Serhiy Bolvinov, investigador-chefe da polícia da região de Kharkiv, disse à Sky News que algumas pessoas morreram como resultado de bombardeios e ataques aéreos. Ele disse que investigações forenses serão realizadas em cada túmulo e um processo de exumações em massa já começou.
“Posso dizer que é um dos maiores cemitérios de uma grande cidade em [áreas] liberadas. 440 corpos foram enterrados em um só lugar”, disse ele.
Oleh Kotenko, ombudsman de pessoas desaparecidas da Ucrânia que visitou a floresta na quinta-feira, disse que algumas sepulturas continham nomes e datas. Corpos de soldados ucranianos foram levados em uma van do necrotério local e jogados em uma vala comum em sacos pretos, disse ele.
Citando um vídeo postado por soldados russos nas redes sociais, ele disse que provavelmente havia mais de 17 corpos em um local. “Ainda não os contamos, mas acho que são mais de 25 ou até 30”, disse ele. Investigadores com detectores de metal estavam examinando o local em busca de explosivos escondidos.
Sergei Gorodko, morador de Izium, disse que entre as centenas de pessoas enterradas em covas individuais estavam dezenas de adultos e crianças mortos em um ataque aéreo russo a um prédio residencial. Ele disse que tirou alguns deles dos escombros “com minhas próprias mãos”, segundo agências.
Milhares de soldados russos fugiram de Izium no fim de semana, após uma contra-ofensiva ucraniana. Os russos abandonaram quase toda a província de Kharkiv e recuaram para novas posições defensivas a leste do rio Oskil, a cerca de 16 quilômetros de Izium.
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As circunstâncias exatas de como essas pessoas morreram ainda não foram determinadas. Em fevereiro e março, soldados russos mataram mais de 1.400 pessoas na região de Kiev, inclusive no subúrbio de Bucha, durante sua tentativa fracassada de tomar a capital ucraniana.
Eles cercaram, interrogaram e executaram centenas de civis. A maioria das vítimas eram homens. Eles também incluíam as mulheres chefes de aldeias, que foram baleadas e enterradas com suas famílias, e pais e filhos baleados enquanto tentavam fugir de carro para um local seguro.
Dezenas de prédios bombardeados no centro da cidade de Izium estão abandonados e estradas estão cobertas com os destroços de uma das batalhas mais ferozes desta guerra, resultando na morte de pelo menos 1.000 pessoas, segundo autoridades ucranianas.
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A cidade foi descrita como uma segunda Mariupol, por causa dos pesados bombardeios que sofreu. O exército russo matou mais de 20.000 pessoas em Mariupol, cidade no sudeste no Mar de Azov, de acordo com Kiev. Soldados russos cercaram o porto no início de março e o bombardearam sistematicamente até meados de maio, atacando por terra, mar e ar.
Sobreviventes enterraram seus entes queridos em covas improvisadas ao lado de seus blocos de apartamentos e em parques infantis. Outros foram sepultados nos porões de prédios residenciais destruídos por ataques russos. Corpos permaneceram lá por semanas.
A Rússia negou repetidamente que tenha como alvo civis ou tenha cometido crimes de guerra.