Trump será interrogado em investigação em Nova York
O depoimento há muito esperado do ex-presidente marca um ponto de virada em uma investigação civil sobre suas práticas comerciais
Donald Trump será interrogado pelo gabinete da procuradora-geral de Nova York nesta quarta-feira, 10, um ponto de virada crucial em uma longa investigação civil sobre suas práticas comerciais na empresa da família, a Trump Organization.
O ex-presidente lutou por meses para evitar o depoimento desta semana, que pode moldar o resultado da investigação sobre seu negócio imobiliário. O momento é particularmente perigoso para Trump, já que, dois dias atrás, o FBI vasculhou Mar-a-Lago, sua casa/resort na Flórida como parte de uma investigação sobre documentos que Trump teria levado consigo quando deixou a Casa Branca.
Ele negou irregularidades e classificou a busca do FBI como “um ataque” que “só poderia ocorrer em países quebrados do Terceiro Mundo”. Trump também chamou a investigação da procuradora-geral de Nova York, Letitia James, de uma “caça às bruxas” com motivação política.
“[Estou] Na cidade de Nova York esta noite. Verei a racista Procuradora-Geral do N.Y.S. [estado de Nova York] amanhã, para uma continuação da maior caça às bruxas da história dos Estados Unidos!”, ele escreveu em uma rede social na terça-feira 9. “Minha grande empresa e eu estamos sendo atacados por todos os lados. República das Bananas!”
Desde março de 2019, os advogados de Letitia James avaliam se Trump e sua empresa aumentaram indevidamente os preços de seus hotéis, tacos de golfe e outros ativos. No início deste ano, ela disse em um processo judicial que as práticas comerciais da empresa eram “fraudulentas ou enganosas”, mas acrescentou que seu escritório precisava interrogar Trump e dois de seus filhos adultos para determinar quem era o responsável por essa conduta.
O testemunho de Trump – que ocorre dias depois que o gabinete do procurador-geral questionou Ivanka Trump e Donald Trump Jr. – é a fase final da investigação.
Como a investigação é civil, a procuradora-geral pode processar Trump, mas não pode apresentar acusações criminais. Ainda assim, acusações criminais pairam sobre o testemunho desta quarta: o escritório do promotor público de Manhattan conduz uma investigação criminal paralela para descobrir se Trump inflacionou de forma fraudulenta as avaliações de suas propriedades.
Seu depoimento pode dar uma nova vida à investigação criminal, que perdeu força no início deste ano. Se Trump tropeçar – ou se incriminar –, Letitia James pode alertar o escritório do promotor distrital, que disse que monitorará de perto o interrogatório.
Trump também está enfrentando uma série de outras investigações criminais. Paralelamente à busca do FBI em Mar-a-Lago nesta semana, promotores federais estão questionando testemunhas sobre seu envolvimento nos esforços do ex-presidente para reverter sua derrota eleitoral.
Além disso, um comitê da Câmara realizou uma série de audiências ligando-o mais estreitamente ao ataque ao Capitólio, a sede do Congresso americano, em 2021; e um promotor público na Geórgia está investigando uma possível interferência eleitoral por parte de Trump e seus aliados.
O inquérito da procuradora-geral de Nova York pode terminar mais cedo do que essas investigações. Se ela buscar negociações com os advogados do ex-presidente, pode obter mais rapidamente uma restituição ao estado pela má-conduta. No entanto, se ela processar Trump – e ganhar –, um juiz poderá impor pesadas penalidades financeiras ao magnata e restringir suas operações comerciais em Nova York.
Os advogados de Trump provavelmente argumentarão que avaliar imóveis é um processo subjetivo e que sua a Trump Organization simplesmente estimou o valor de suas propriedades, sem a intenção de gerar uma inflação artificial. O ex-presidente também poderia se recusar a responder a algumas das perguntas, invocando seu direito constitucional contra a autoincriminação. Ou ele pode afirmar que não estava envolvido na avaliação de suas propriedades e delegou esse processo a seus funcionários.
Ficar em silêncio pode prejudicá-lo perante o júri, mas também pode machucá-lo politicamente em um momento em que insinua que voltará a ser candidato presidencial em 2024, indicando que ele poderia estar tentando esconder alguma coisa.
Trump já havia se recusado a depor, mesmo após ser intimado, o que obrigou-o a pagar uma multa de US$ 110.000.
A procuradora-geral de Nova York revelou em um processo judicial este ano que a empresa de contabilidade de longa data de Trump, que compilou essas declarações, cortou os laços com ele.