Em seu primeiro dia de visita oficial ao Reino Unido, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi recebido em jantar de gala no Palácio de Blenheim pela primeira-ministra britânica, Theresa May. Mais de 1.000 manifestantes protestaram contra sua presença no país do lado de fora. Um balão gigante representando-o como um bebê será inflado no centro da cidade para marcar a contrariedade local com sua visita.
Sua presença levou o governo britânico a organizar a maior operação de segurança no país desde os protestos contra a guerra do Iraque em 2003. Manifestantes já o esperavam na residência do embaixador americano em Londres, a Winfield House, onde está hospedado. O ex-primeiro-ministro Winston Churchill nasceu nesse palácio.
A maioria dos compromissos de Trump nos seus quatro dias de visita foi agendada para locais fora de Londres, de maneira a não expor o americano às manifestações programadas.
Na sexta-feira, ele vai se reunir com May na residência de Chequers – a casa de campo do primeiro-ministro, e não em seu gabinete, em 10 Downing Street. Seu esperado encontro com rainha Elizabeth se dará no castelo de Windsor – a 35 quilômetros do Palácio de Buckingham. Não desfilará, portanto, em carruagem real por Londres como os demais chefes de Estado em visita à rainha.
Em seguida, Trump viajará para a Escócia com a finalidade de conhecer campos de golfe da região. Ele deixará o Reino Unido apenas no domingo, quando embarcará para a Finlândia para encontrar-se com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no dia 16.
A maior manifestação contra sua presença no país acontecerá na sexta-feira, pelas ruas de Londres, sob o lema “Stop Trump March” (“Marcha para deter Trump”, em tradução livre). Os participantes deverão se concentrar às 14h (10h em Brasília) em frente aos estúdios da emissora britânica BBC, de onde seguirão até a Trafalgar Square.
“Organizaremos uma grande manifestação nacional contra sua política sexista, racista, bélica, de ódio e de negação da mudança climática”, disseram os líderes do protesto.
A instalação do balão de 30 metros, chamado de Baby Trump, ao lado do Parlamento britânico foi autorizada pelo prefeito londrino, Sadiq Khan, com quem o presidente americano alimentou vários debates pelas redes sociais. Ficará no ar entre as 9h30 e 11h30 de sexta-feira (5h30-7h30, no horário de Brasília).
Khan se opôs abertamente à visita de Trump a Londres. Em artigo no Evening Standard, o prefeito escreveu que uma relação especial “também significa se expressar quando pensamos que uma parte não está à altura dos valores que tanto apreciamos”. “Como muitos londrinos, sinto que esta é uma dessas ocasiões”, afirmou.
Ao ser questionado sobre essas manifestações, antes de partir para Londres, Donald Trump respondeu que os britânicos o “amam muito” e concordam com ele sobre a melhor política de imigração a ser adotada. “Acho que foi por isso que o Brexit aconteceu”, completou, referindo-se ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Segundo uma pesquisa do Instituto YouGov publicada nesta quinta-feira, porém, 77% dos britânicos disseram ter uma opinião desfavorável de Trump, 74% o consideram um sexista, e 63%, um racista. Quase metade das 1.648 pessoas entrevistadas acredita que a rainha Elizabeth não deveria recebê-lo.
Relação especial
Apesar da opinião dos cidadãos locais sobre Trump, o governo britânico aposta na visita do líder americano como um sinal efetivo de que há vida para o país fora da União Europeia . A “relação especial” com os Estados Unidos, no ponto de vista do governo, poderá se traduzir em ambiciosos acordos comerciais que seriam igualmente bem-vindos para a Casa Branca.
“Quando deixarmos a União Europeia, começaremos a traçar uma nova direção para o Reino Unido no mundo, e nossas alianças mundiais serão mais fortes do que nunca”, disse May. “Não há aliança mais forte do que nossa relação especial com os Estados Unidos e não haverá aliança mais importante nos próximos anos”, acrescentou.
O embaixador americano em Londres, Woody Johnson, disse que o acordo comercial será “uma prioridade maior” para Trump quando o Brexit se materializar, em março de 2019. O presidente americano, porém, tem adotado medidas protecionistas que afetam os interesses do Reino Unido, como a adoção de tarifas de importação sobre o aço.
Pouco afeito aos protocolos diplomáticos, Trump já protagonizou várias divergências com May. O embaixador Woody Johnson teve de correr para explicar, na quarta-feira, a declaração de seu presidente de que o Reino Unido vive “em plena tempestade”, após a renúncia de dois pesos-pesados do gabinete de May por discordarem da estratégia sobre o Brexit.
“Há sempre tempestades em todos os países, mas não, não, acho que o Reino Unido age da mesma maneira que sempre fez”, declarou o diplomata, interrogado pela BBC. “É um país muito seguro de si mesmo, um país muito capaz. Confiamos plenamente na capacidade do Reino Unido de resolver o problema do Brexit e passar para outra coisa”, acrescentou, saudando a “extraordinária relação” que une Londres e Washington.