Líderes de todo o mundo e autoridades da área da saúde criticaram nesta quarta-feira, 15, a decisão do presidente americano, Donald Trump, de suspender o financiamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) em meio à pandemia de coronavírus. O número de casos de contaminação já ultrapassou dois milhões em nível global, com mais de 130.500 mortes, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, expressou pesar com a perda de financiamento. Os Estados Unidos são o principal contribuidor para a organização, destinando mais de 400 milhões de dólares por ano, cerca de 10% do orçamento.
“A OMS não está lutando só contra a Covid-19”, disse Tedros. “Também combatemos a poliomielite, sarampo, malária, Ebola, HIV, tuberculose, desnutrição, câncer, diabetes, saúde mental e muitas outras doenças e condições”.
O presidente americano justificou sua decisão acusando a organização de “severa má administração e encobrimento” da disseminação do coronavírus na China. Trump disse que “muitas mortes foram causadas pelos erros [da OMS]”.
Nesta quarta-feira, 15, a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, condenou as ações de Trump, afirmando que “não faz sentido” suspender o financiamento à entidade que lidera a luta global contra a pandemia de coronavírus.
“Só podemos ter sucesso em derrotar essa pandemia por meio de uma resposta internacional coordenada com respeito à ciência e aos dados. Esta decisão é perigosa, ilegal e será rapidamente contestada”, disse a democrata Pelosi. Segundo o jornal americano The New York Times, a líder da Câmara declarou que os democratas do legislativo contestariam a decisão.
Uma série de outros líderes globais também se manifestou contra a decisão do líder americano. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que, com a agência de saúde global “na linha de frente” da crise, não é hora de interromper o financiamento. Heiko Maas, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, tuitou que “não adianta procurar por culpados”, pois “o vírus não conhece fronteiras.”
O jornal britânico The Guardian reporta que um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China pediu que os Estados Unidos respeitassem seu compromisso com a OMS neste momento crítico. Moussa Faki Mahamat, presidente da União Africana – organização internacional que promove a integração entre os países do continente – chamou a ação de “profundamente lamentável”.
O editor-chefe da revista científica britânica Lancet, uma das mais antigas e prestigiadas publicações da área da Medicina, escreveu que a decisão de Trump foi “um crime contra a humanidade”. “Todo cientista, todo profissional de saúde, todo cidadão deve resistir e se rebelar contra essa terrível traição à solidariedade global”, afirmou Richard Horton.
A OMS afirmou que vai avaliar o impacto da retirada do financiamento americano e “trabalhar com nossos parceiros para preencher as lacunas financeiras”.