Ao final de um encontro na Casa Branca com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira esperar a “normalização” das relações entre seu país e a Coreia do Norte a partir de seu encontro com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, na próxima semana. Mas advertiu que estará “totalmente pronto para cair fora”, se for necessário.
“Eu tenho que estar preparado para cair fora. Espero que não seja necessário”, afirmou Trump à imprensa, ao lado de Abe no jardim da Casa Branca.
Trump acrescentou que estaria aberto a receber uma visita de Kim aos Estados Unidos, “se as coisas saírem bem” durante seu histórico encontro com o norte-coreano em Singapura, no dia 12. Questionado se se essa visita seria à propriedade dele em Mar-a-Lago, na Florida, o americano respondeu que preferiria começar pela Casa Branca.
O presidente americano, entretanto, advertiu que seu governo já listou um conjunto de novas sanções a Pyongyang, cuja aplicação foi adiada por conta da expectativa positiva desse primeiro encontro. Mas avisou que serão adotadas, se necessário. “Não acho que será.”
Embora tenha se esquivado de repetir uma de suas expressões favoritas, “pressão máxima”, ele sinalizou que as sanções vigentes contra a Coreia do Norte serão mantidas até a completa adoção dos termos de um possível acordo e da esperada normalização das relações bilaterais. China, Coreia do Sul e Japão, destacou Trump, terão papéis importantes nesse processo.
“Este é apenas o primeiro passo em direção a um acordo. É só o começo. Esta é a parte mais fácil. A parte mais difícil vem depois”, afirmou Trump, cauteloso, referindo-se a um possível processo de negociação a ser iniciado no dia 12 e que envolverá, inevitavelmente, temas sensíveis. Entre eles, a desnuclearização da Coreia do Norte, a redução dos contingentes militares americanos na Coreia do Sul e a cooperação e investimentos econômicos.
Trump rejeitou a hipótese levantada por um jornalista, antes de seu encontro com Abe, de que a sua reunião com Kim no dia 12 venha a ser apenas a oportunidade de posar para uma foto histórica. Conforme ele mesmo faz questão de lembrar com frequência, nenhum de seus antecessores conseguiu uma aproximação suficientemente adequada com Pyongyang para agendar uma reunião com o líder norte-coreano.
“Vai ser muito mais do que uma pose para foto. Eu acho que é um processo. Não haverá um acordo em apenas uma reunião. Seria maravilhoso se assim fosse. Como vocês sabem, eles têm muitos inimigos”, disse Trump. “Será inaceitável se eles não desnuclearizarem”, completou.
Sequestrados
Trump teve hoje seu sétimo encontro com Abe desde sua posse, em janeiro de 2017. O primeiro-ministro japonês aproveitou sua participação na reunião de líderes do G7 em Charlevoix, no Canadá, nos dias 8 e 9, para agendar de última hora a reunião com Trump. Abe tinha duas fortes razões para cavar o encontro na Casa Branca.
O primeiro é a preocupação crescente no Japão de que um acordo final com a Coreia do Norte proteja os Estados Unidos dos mísseis continentais, munidos de ogivas nucleares, de Pyongyang. Mas deixe o Japão ao alcance dos disparos norte-coreanos. Vários dos mísseis balísticos testados pela Coreia do Norte nos últimos anos cruzaram o território ao Norte do Japão.
Um autoridade do Ministério de Relações Exteriores japonês mencionou a repórteres que o Japão “repetidamente deixou claro estar buscando um completo, verificável e irreversível desmantelamento de todas as armas de destruição em massa e mísseis balísticos de todos os alcances”. “Essa posição não mudou, e pensamos que os Estados Unidos compreendem a posição do Japão”, completou o diplomata.
“Nós queremos a completa adoção, pela Coreia do Norte, da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas (de dezembro de 2017, que impôs mais sanções ao país). Um passo adiante será um novo acordo, que permita a abertura de uma porta para a paz e a estabilidade do Leste da Ásia”, reiterou Abe.
Mais do que os atritos comerciais entre os Estados Unidos e o Japão, tema que esteve na pauta de discussão entre os dois líderes, a segunda forte razão para a presença de Abe hoje na Casa Branca é a questão do sequestro de cidadãos japoneses por norte-coreanos durante os anos 1970 e 1980.
Esse tema praticamente dominou as declarações de Abe à imprensa, por se tratar de uma das prioridades da política externa japonesa e de um tema internamente sensível. O primeiro-ministro japonês conseguiu, ao final, extrair um compromisso público do presidente americano de que tratará do assunto com Kim Jong-un.
“Vou seguir o seu desejo e falar com os norte-coreanos sobre essa questão”, declarou Trump.
Abe referiu-se várias vezes a esse “tema de afeto” e chegou a ser apelativo ao comentar os casos de crianças sequestradas há mais de 40 anos. “O povo do Japão quer abraçá-las novamente”, disse.
O governo japonês tem 17 casos de sequestro confirmados, mas organizações locais de direitos humanos chegam a listar centenas de nomes. As negociações diretas entre Tóquio e Pyongyang naufragaram em 2014. A Coreia do Norte chegou a reconhecer 12 sequestrados, dos quais oito teriam morrido e quatro jamais teriam ingressado no país.