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Trump completa dois anos de mandato com paralisia do governo há um mês

Em campanha de reeleição, presidente tem aprovação de 41,4% a seu trabalho graças a melhoria na atividade econômica

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 30 jul 2020, 19h57 - Publicado em 22 jan 2019, 08h00

Em 20 de janeiro de 2017, o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarara em discurso que “havia pouco para famílias em dificuldades de todo o país celebrarem”. Dois anos depois, por mero capricho, o líder americano mantém mais de 1 milhão de famílias atrapadas pela paralisia do governo federal, que completará um mês nesta terça-feira.

A paralisia parcial do governo federal americano é a mais longa da história. O recorde anterior fora batido por Bill Clinton em dezembro de 1995, com 21 dias.

Em 22 de dezembro passado, em uma disputa com o Congresso por verba para a construção de um muro na fronteira com o México – uma espécie de “Arco do Triunfo” de seu governo para a posteridade -, Trump impediu a aprovação do orçamento federal. A negociação tornou-se mais acirrada com a posse dos parlamentares eleitos em novembro, que resultou no domínio da oposição democrata na Câmara dos Deputados.

Cerca de 800.000 funcionários públicos deixaram de receber seus salários – em geral, pagos semanalmente – desde o final de dezembro. Os departamentos (ministérios) de Estado, Tesouro, Agricultura, Comércio, Segurança Doméstica, Desenvolvimento Urbano, Interior, Justiça, Transporte tiveram suas rotinas afetadas, assim como a Agência de Proteção Ambiental e a Administração de Alimentos e Drogas.

Até mesmo a Securities and Exchange Comission (similar no Brasil à Comissão de Valores Mobiliários) suspendeu parte de seus trabalhos. Vários aeroportos funcionam parcialmente porque não há suficiente número de agentes de segurança trabalhando. Os museus Smithsonian, famosos por fecharem apenas no dia de Natal, trancaram suas portas, assim como a Galeria Nacional de Artes, em Washington.

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Um dos principais instrumentos do Telescópio Espacial Hubble parou de funcionar, mas os engenheiros responsáveis, sem salários, se recusaram a consertá-lo. Parte dos funcionários da Nasa está suspensa. Os parques nacionais suspendeu serviços essenciais, como a coleta de lixo e a manutenção de trilhas.

O quadro ainda é pior para quem depende do governo federal para viver. A maioria dos funcionários públicos, que ganha cerca de 2.000 dólares ao mês, não recebeu o primeiro salário semanal do ano. Milhares correram para se registrar nas agências estaduais do Trabalho como desempregados para receberem, ao menos, ajuda financeira para pagar as contas.

Milhões de americanos que recebem o selo-alimento e ajuda para o aluguel de imóvel – benefícios em dinheiro para as pessoas mais pobres, deficientes e idosos – estão ao “Deus dará”.

O Departamento de Agricultura anunciou que somente em fevereiro receberá os recursos necessários para atender aproximadamente 40 milhões de americanos que recebem ajuda para se alimentar. Segundo o Post, o custo do Programa de Assistência para a Nutrição Suplementar é de 4,8 bilhões de dólares por mês. Para março, há 3 bilhões de dólares em reserva, mas ainda está incerto se, em março, a o governo  estará funcionando totalmente.

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Entre dezembro e fevereiro, cerca de 1.700 contratos de subsídios para aluguel perderiam a vigência e, até que o governo volte a funcionar, os pedidos de prorrogação não serão recebidos. No caso de pessoas de baixa renda da zona rural, 700 contratos vão expirar em fevereiro.

O próprio Trump fez um “sacrifício”: cancelou sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, nesta semana, e impediu que outras autoridades federais o representassem. Um pena maior já lhe foi cobrada pela nova presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosy: postergar seu discurso no Congresso sobre “o estado da União”, previsto para o dia 29, por falta de agentes de segurança.

Até esta segunda-feira 21, não havia sinais de término da queda de braço entre Trump e Pelosy. O americano chegou a anunciar a facilitação da permanência dos “dreamers” – sonhadores, em inglês, mas neste caso, as crianças indocumentadas trazidas por seus pais aos Estados Unidos – em troca de 5,7 bilhões de dólares no orçamento para a construção de seu muro.

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Trump ameaçara esses 700.000 imigrantes com a expulsão, o que acabou não fazendo até agora. Mas retirou deles direitos conquistados durante o governo do democrata Barack Obama. Nesta segunda-feira, 21, feriado em celebração a Martin Luther King, Trump fez uma visita-surpresa ao monumento em Washington ao líder pelos direitos civis.  Não falou com a imprensa, mas se expressou pelo Twitter.

“Os democratas fizeram campanha dizendo que trabalhariam em Washington e ‘conseguiriam terminar as coisas’! Como isso está funcionando?”, atacou o presidente americano.

Economia versus diplomacia

Em dois anos, Trump teve o benefício de governar com as duas casas do Congresso nas mãos de maioria republicana. Mesmo diante desse conforto, não conseguiu passar seu projeto de acabar com o sistema de saúde adotado durante o governo de Obama. O principal republicano a boicotar seus planos foi o senador John McCain, que antes de morrer, em agosto passado, deixou por escrito seu desejo de que Trump não estivesse presente em seu velório.

Mas enfrenta duas investigações – a dos procuradores de Nova York e a do procurador especial Robert Mueller – capazes de ameaçar a conclusão de seu mandato ou sua reeleição, em 2020. A primeira delas levou à cadeia ou à delação premiada os principais colaboradores da campanha eleitoral de Trump. A investigação tocada por Mueller versa sobre a suspeita de coordenação entre a campanha eleitoral e a Rússia de Vladimir Putin em favor da vitória do magnata americano em 2016.

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Durante os últimos dois anos, porém, Trump conseguiu anunciar a recuperação definitiva da economia dos Estados Unidos, depois do longo período de recessão e baixo crescimento provocado pela crise financeira de 2008. A taxa de desemprego no país, que chegou a 14%, foi de 3,9% em dezembro passado.

A economia americana terá expandido 2,9%, em 2018, e deverá crescer 2,5% em 2019, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Suas medidas de redução da tributação para as empresas terá ajudado. Mas boa parte do cenário favorável atual é amplamente atribuída à gestão de Obama.

Esses indicadores, porém, foram suficientes para garantir a seu partido a maioria das cadeiras do Senado na eleição de novembro. A guerra comercial aberta por Washington contra a China, maior parceiro comercial dos Estados Unidos, gerou prejuízos para os próprios setores produtivos americanos e ainda hoje, sem uma solução negociada, ameaça a evolução da economia mundial.

Sua taxa de aprovação, segundo a média das pesquisas calculada pelo portal Real Clear Politics, é atualmente de 41,4%. Já foi melhor, de 45,7%, em fevereiro de 2017. E pior, de 37,1%, em 16 de dezembro do mesmo ano. Esses dados, os resultados pouco favoráveis aos republicanos nas eleições de novembro e as repercussões da longa paralisia do governo não tendem a ajudá-lo em sua campanha Trump-2020, já nas ruas.

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No plano externo, Trump moveu-se como um bólido, com repercussões na agenda interna. Retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre Mudança Climática e impulsionou os setores domésticos de petróleo e de carvão. Também tirou o país da Unesco, iniciou uma briga com a Organização Mundial do Comércio (OMC) em prol da reforma desse organismo e “atirou” em todos os parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aos quais acusou de não contribuírem financeiramente como deviam.

Assim como no plano interno, ele tratou especialmente de desconstruir os sucessos da política externa de seu antecessor. Demoliu o acordo dos Estados Unidos de reaproximação com Cuba, retirou o país do Tratado Nuclear de seis Nações com o Irã e da Parceria Transpacífico (TPP).

Mas tenta selar a paz definitiva na península da Coréia e negocia com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, o desmonte do arsenal nuclear de Pyongyang – ainda sem avanços concretos. Trump teve com Kim, em junho passado, um histórico encontro em Singapura, que deverá ser replicado em fevereiro no Vienã.

No Oriente Médio, Trump causou polêmicas com potencial de enormes prejuízos para a paz. Em maio passado, transferiu a embaixada americana em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, em uma indicação clara do reconhecimento de Washington da soberania israelense sobre a cidade sagrada. A medida contraria resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Em dezembro, ele anunciou o início da retirada dos 2.000 militares americanos em ação na Síria por considerar que o Estado Islâmico estava derrotado. A remoção começou em janeiro e causou reações da Turquia, que ameaça os curdos, aliados dos americanos no terreno sírio. No último dia 16, quatro soldados americanos morreram em um atentado do mesmo grupo extremista na cidade síria de Manjib, em um caso que desmontou o argumento do presidente americano.

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