O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perdeu a mais recente queda de braço com a democrata Nancy Pelosy, que preside a Câmara dos Deputados, e aceitou postergar seu discurso sobre o Estado da União, previsto para 29 de janeiro. Trump informou na noite de quarta-feira que o fará somente depois do fim da paralisia do governo federal, que completara um mês no dia anterior.
“Como a paralisia continua, Nancy Pelosy me pediu para fazer o discurso sobre o Estado da União. Eu concordei. Ela então mudou de ideia por causa da paralisia, sugerindo a postergação. Esta é uma prerrogativa dela – eu farei o discurso quando a paralisia tiver terminado”, escreveu Trump no Twitter às 23h de ontem (2h desta quarta-feira, em Brasília).
O discurso sobre o Estado da União, realizado sempre no plenário do Congresso americano, é o mais importante feito pelos presidentes do país a cada ano desde George Washington, em 1790. Nessa oportunidade, o presidente expõe as conquistas de seu governo e dá as diretrizes para os próximos anos nas searas doméstica e externa.
Segundo a CNN, Thomas Jefferson foi o primeiro presidente a apresentar seu discurso por escrito – método alternativo válido até hoje. Em 1939, Wilson fez a primeira exposição no plenário das duas casas do Congresso. Dois presidentes não chegaram a fazer seus discursos porque morreram antes – William Henry Harrison, em 1841, e James Garfield, em 1881.
Trump repete a única postergação registrada até agora na história americana, a de Ronald Reagan, em 1986. Horas antes de seu discurso deu-se a explosão do ônibus espacial Challenger. No caso atual, porém, o presidente americano criou a razão pela qual seu discurso será atrasado.
Para pedir a postergação, Pelosy argumentou que o sistema de segurança para a presença de Trump no Congresso estaria prejudicada pela paralisia do governo. Não é bem a verdade. Mesmo sem os salários caindo em suas contas, os agentes do Serviço Secreto, que cuidam da segurança do presidente e de sua família, continuam em ação.
Mas a paralisia do governo tornou-se uma questão essencialmente política. Trump a provocou como meio de forçar a Câmara dos Deputados a aprovar a inclusão da despesa de 5,7 bilhões de dólares no orçamento deste ano para a construção de um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México. Trata-se de uma de suas principais promessas de campanha e de possível troféu para seu projeto de reeleger-se em 2020. Os democratas rechaçam a proposta.
Nesta quinta-feira, o Senado americano, de maioria republicana, votará duas propostas para acabar com a paralisia do governo. Uma delas é a inserir os recursos para as obras do muro no orçamento, como quer Trump. Segundo o jornal Washington Post, a outra é de abertura parcial do governo para pagar os salários dos 800.000 servidores federais e dar mais tempo para as negociações sobre a segurança da fronteira sul.
Os democratas se opõem à primeira, os republicanos rejeitam a segunda. Para aprovação de qualquer uma delas serão necessários 60 votos. Ou seja, para a primeira, sete democratas terão de virar a casaca. Para segunda, dezessete republicanos terão de fazer o mesmo.