O Tribunal Constitucional da Romênia ordenou nesta quinta-feira, 28, a recontagem dos votos do primeiro turno das eleições presidenciais do país, realizadas no último domingo. Em reviravolta, o atual primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, de centro-esquerda, ficou em terceiro lugar e fora do segundo turno, marcando um avanço do conservadorismo radical nas mãos de Calin Georgescu.
Um super nacionalista pró-Rússia que coleciona críticas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Georgescu conquistou quase 23% dos votos. Elena Lasconi, da União Salve a Romênia (USR), de centro-direita, conquistou 19,7% de apoio, ficando em segundo lugar. Ela superou Ciolacu, conhecido pela postura pró-União Europeia, por apenas 0,02 pontos percentuais.
O resultado foi um choque, porque a maioria avassaladora das pesquisas de opinião apontava uma vitória confortável do atual premiê e apenas 5% das intenções de voto para Georgescu.
Em meio ao surpreendente desfecho, a corte romena aprovou por unanimidade que o gabinete eleitoral “reverificasse e recontasse todos os votos válidos e inválidos”, uma vez que foram relatados “ataques cibernéticos com o objetivo de influenciar a correção do processo eleitoral”. A decisão apontou, ainda, um “interesse crescente” da Rússia, acusada de disseminar desinformação no país, em “em influenciar a agenda pública na sociedade romena”.
A Presidência da Romênia, por sua vez, alegou que um dos candidatos, sem citar nominalmente Georgescu, “se beneficiou de uma exposição massiva devido ao tratamento preferencial” no TikTok, onde pescou muitos de seus eleitores, e acusou a rede social chinesa de não identificá-lo “como um candidato político” nas postagens, de forma a não respeitar as normas do devido processo eleitoral.
Além disso, o Conselho Nacional do Audiovisual (CNA) apelou que a Comissão Europeia abra uma investigação contra o TikTok por “manipulação da opinião pública” e “amplificação algorítmica”, priorizando os conteúdos de candidatos específicos. Pavel Popescu, o vice-chefe da reguladora de telecomunicações romena, Ancom, também culpou a rede social por “manipulação do processo eleitoral”. Em contrapartida, um porta-voz da plataforma definiu as queixas como “imprecisas e enganosas”.
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Próximos passos
Apesar das possíveis polêmicas envolvendo Georgescu, a recontagem teria sido motivada por uma alegação de fraude nos votos obtidos por Lasconi, segundo o site de notícias Digi24. A denúncia teria, além disso, demandado a anulação dos resultados do último domingo. Em resposta, a candidata afirmou que o governo estava “interferindo no processo democrático pela segunda vez” e que “combate-se o extremismo por meio de votos, não de jogos de bastidores”.
O pedido de revogação será analisado pelo tribunal nesta sexta-feira, 29. Outra queixa foi apresentada contra Georgescu, mas não foi analisada por ter sido enviada após o prazo. O segundo turno está previsto para 8 de dezembro.
Por enquanto, o presidente do gabinete eleitoral, Toni Greblă, já adiantou à imprensa romena que a revisão dos cerca de 9,5 milhões de votos pode se estender por dias após a chegada do pedido oficial pelo tribunal. A movimentação pode levar à descredibilização das instituições do país em meio aos preparativos para a eleição parlamentar e para o segundo turno da presidencial.