Com um treino anti-pouso de jatos inimigos em um rio estratégico, Taiwan deu a largada nesta segunda-feira, 22, aos exercícios militares anuais de Han Kuang, que neste ano prometem se aproximar o máximo próximo possível de uma guerra real. Sem roteiro detalhado para mimetizar a realidade, os treinamentos vão durar cinco dias, simular um ataque chinês e como o Exército da pequena ilha no Pacífico pode repeli-lo.
A China, que considera a vizinha de governo autônomo e democrático como parte de seu território, há quatro anos tem realizado exercícios regulares em torno da ilha para pressionar Taipei a aceitar a soberania de Pequim. Isso aumentou o estado de alerta em Taiwan, que também responde com táticas de guerra renovadas.
Os exercícios deste ano cancelaram elementos de mera exibição, como demonstrações roteirizadas de poderio de fogo. Haverá ainda treinos noturnos intensificados e exercícios práticos, por exemplo, de como seguir em combate quando linhas de comando forem cortadas. Neste primeiro dia, os militares operaram na foz do Tamsui, importante rio que leva a Taipei, praticando a instalação de minas e redes para impedir o desembarque de forças inimigas – parte de uma série de exercícios destinados a evitar a tomada da capital.
“Estamos fazendo de tudo para detê-los o máximo possível”, disse o oficial militar Chang Chih-pin a jornalistas, referindo-se a um cenário em que a China tenta chegar à costa enviando barcos pelo rio Tamsui. “Quanto mais devagar eles se moverem, melhor para nós”, acrescentou.
Treinos amplos
Na manhã de segunda-feira, na vizinha Taoyuan, onde fica o principal aeroporto internacional de Taiwan, reservistas se reuniram para receber suas ordens exatamente como fariam durante uma guerra. Vans civis foram mobilizadas para transportar suprimentos nos arredores de Taipei. É prenúncio do que acontecerá na quinta-feira, quando o aeroporto ficará fechado por uma hora pela manhã para uma rodada de exercícios.
O Ministério da Defesa taiwanês também publicou vídeos de caças da Força Aérea na base aérea de Hualien, na costa leste da ilha, que tem hangares escavados na encosta de uma montanha para proteger as aeronaves de ataques aéreos.
Para esta semana, estão previstos exercícios de combate a incêndios reais nas ilhas periféricas de Taiwan, incluindo Kinmen e Matsu, que ficam situadas próximas à costa chinesa e foram palco de confrontos intermitentes durante o auge da Guerra Fria. Outros cenários de desta semana incluem a criação de linhas de comando de contingência, caso os centros existentes sejam destruídos numa guerra real, e a dispersão de forças chinesas que tentarem desembarcar na costa oeste de Taiwan, de frente para a China.
Em paralelo aos treinos do Exército, haverá ainda exercícios de defesa civil, com objetivo de simular uma operação de retirada e proteção de civis durante um possível ataque com mísseis da China. As ruas das principais cidades de Taiwan serão fechadas e a população será sujeitada a uma evacuação de meia hora, ao som de sirenes de alerta que devem tocar em cada um dos smartphones dos cidadãos.
Ameaça em alta
A China realizou dois dias de exercícios de guerra em torno de Taiwan logo após a posse do novo presidente, Lai Ching-te, em maio, caracterizando as operações como um “castigo” pelo seu discurso na cerimônia. Segundo Pequim, a fala foi repleta de narrativas separatistas.
Além disso, os militares chineses também tem utilizado missões quase diárias da Força Aérea nos céus perto de Taiwan como uma tática para exaurir um inimigo, mantendo-o continuamente em alerta, sem recorrer ao combate aberto.
A China nunca renunciou ao uso da força para colocar Taiwan sob o seu controle e, segundo reportagens com acesso ao funcionamento interno do Partido Comunista Chinês, o líder Xi Jinping tem o objetivo de que Pequim desenvolva seu Exército o suficiente para iniciar uma guerra a partir de 2027. Lai, que afirma que apenas o povo taiwanês pode decidir o seu futuro, se ofereceu repetidamente para negociar com Pequim, mas teve seus apelos rejeitados.