Dezenas de idosos sul-coreanos entraram nesta segunda-feira, 20, na Coreia do Norte para reunir-se com parentes pela primeira vez desde a península e suas famílias foram separadas pela Guerra da Coreia (1950-1953).
De segunda-feira a quarta-feira, os participantes passarão 11 horas com os familiares do Norte na localidade turística de Monte Kumgang, sob a supervisão de agentes norte-coreanos.
Esta nova série de reuniões de famílias divididas, a primeira em três anos, foi decidida após a distensão registrada na península desde o início do ano.
A Guerra da Coreia separou milhões de pessoas: irmãos, pais e filhos, maridos e mulheres.
O conflito acabou com um armistício, sem a assinatura de um tratado de paz, pelo qual Norte e Sul ainda estão tecnicamente em estado de guerra, e as comunicações civis estão proibidas.
Os 89 idosos sul-coreanos e seus companheiros de viagem deixaram a cidade portuária de Sokcho (nordeste da Coreia do Sul) em 14 carros. O comboio seguiu para a Zona Desmilitarizada, acompanhado por uma escolta policial e por vários médicos.
Entre os participantes está Lee Keum-seom, de 92 anos, que não vê o filho, agora com 71 anos, desde a guerra.
Durante a fuga, ela perdeu seu marido e seu filho de quatro anos. Partiu em uma balsa para o Sul com sua filha, que a acompanhará nesta segunda-feira.
“Não sei o que sinto, se é positivo, ou negativo”, disse Lee. “Não sei se é real, ou um sonho”, completou.
No Sul, ela voltou a se casar e criou sete crianças, mas nunca deixou de se preocupar com aquele filho. “Onde viveu? Com quem? Quem o educou? Tinha apenas quatro anos”, relembra.
Desde 2000, os dois países organizaram 20 séries de reuniões de famílias divididas, geralmente graças à melhoria das relações bilaterais. Mas o tempo está contado, devido à idade dos sobreviventes.
Um total de 130 mil sul-coreanos se apresentou como candidatos a essas reuniões, mas a grande maioria morreu, e muitos estão com mais de 80 anos, um deles, inclusive, com 101.
Frustração
No último momento, alguns cancelaram a viagem por motivos de saúde.
Lee Keum-seom é uma das poucas que verá um filho.
Alguns sul-coreanos escolhidos aleatoriamente para a reunião deste ao ano desistiram ao saber que seu pai, mãe, irmão, ou irmã do outro lado da fronteira havia falecido e conheceriam somente parentes distantes.
Lee Kwan-joo, de 93 anos, é uma exceção. Quer conhecer sobrinhos para ter ideia da vida que seus pais e seus seis irmãos levaram no Norte antes de morrerem. Em 1945, Lee foi enviada para uma escola no Sul, e a guerra selou a separação para sempre.
“Fico feliz de saber que poderei conhecer meu sobrinho e minha sobrinha, embora eu sequer tenha visto seus rostos”, declara. “Quero apenas perguntar como morreram meus irmãos, irmãs e pais”, acrescentou.
As pessoas que participaram das reuniões anteriores deste tipo lamentaram o pouco tempo e recordam que foi muito difícil se despedir após três dias.
Outras comprovaram com tristeza a enorme brecha ideológica que foi estabelecida entre as famílias após décadas de separação.