O governo da Suécia está enviando uma cartilha com instruções de como se proteger em caso de guerra para todas as 4,8 milhões de residências do país, alertando os cidadãos sobre o perigo de uma guerra iminente pela primeira vez em mais de trinta anos, segundo a emissora americana CNN.
A cartilha, intitulada Om krisen eller kriget kommer – “Se a crise ou a guerra chegar”, em sueco –, foi compilada pela Agência Sueca de Contingências Civis (MSB, na sigla em sueco) e instrui os civis sobre o que fazer se “sua vida cotidiana for virada de cabeça para baixo” por um eventual conflito.
A cartilha, de vinte páginas, fornece informações sobre todos os pontos aos quais os cidadãos devem ficar atentos, desde como identificar notícias falsas e como preparar-se para condições climáticas extremas até o que fazer em caso de ataques terroristas e conflitos militares.
O texto vem acompanhado de ilustrações de soldados no campo, pessoas fugindo de zonas de desastre e equipes de segurança cibernética em seus computadores.
A brochura é uma versão atualizada de uma cartilha produzida originalmente durante a II Guerra Mundial. Um material semelhante foi amplamente distribuído também na década de 80, durante a Guerra Fria.
“Todos nós temos uma responsabilidade em relação à segurança e preparação de nosso país [para um eventual conflito], por isso é importante que todos tenham conhecimento de como podemos contribuir se algo sério ocorrer”, disse o diretor-geral do MSB, Dan Eliasson, em um comunicado, segundo o portal sueco The Local. “A Suécia é mais segura do que muitos outros países, mas existem ameaças.”
A Suécia permaneceu como país neutro durante a II Guerra Mundial e não enfrenta uma guerra há mais de 200 anos.
A justificativa para que os cidadãos tomem esses cuidados descritos na cartilha se deve, em parte, à “situação de segurança em nosso bairro” – uma referência à área do Mar Báltico, que também banha a Rússia, segundo um porta-voz da Agência de Contingências Civis ouvido pela CNN em janeiro de 2018.
Tensões
A distribuição da cartilha ocorre em um momento em que o debate sobre o ingresso da Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se intensificou, após as supostas violações russas do espaço aéreo e das águas territoriais suecas.
A Suécia ainda não é membro oficial da organização liderada pelos Estados Unidos, mas contribuiu para operações coordenadas por ela e tem laços bilaterais com o grupo por meio do programa Parceria para a Paz e do Conselho de Parceria Euro-Atlântica (EAPC, na sigla em inglês).
O país nórdico tem investido pesadamente em estratégia de defesa nos últimos anos, reintroduzindo o recrutamento militar obrigatório e também posicionando tropas permanentes na ilha de Gotland, rodeada pelo Mar Báltico e próxima dos territórios da Polônia e Letônia.
Em 2010, o país chegou a suspender o alistamento militar obrigatório, trocando por um sistema voluntário. Porém, em março de 2017, anunciou que a obrigatoriedade do recrutamento voltaria em 2018.
O governo sueco também anunciou, em fevereiro de 2015, que pretendia aumentar os gastos com defesa em 720 milhões de dólares em cinco anos. Ainda assim, o país, com aproximadamente 10 milhões de habitantes, vem sofrendo para recrutar soltados para suas tropas.
Segundo o canal americano, dados oficiais divulgados em março deste ano indicam que as Forças Armadas estavam com 1.000 pessoas a menos do que o esperado ocupando cargos de liderança ou servindo como soldados e marinheiros em tempo integral. O plano é garantir que haja ao menos 6.000 membros em tempo integral, além de outros 10.000 disponíveis para servir em meio período.