Segundo grupo de repatriados da Faixa de Gaza chega ao Brasil
Avião com 48 pessoas, entre brasileiros e palestinos, pousou na Base Aérea de Brasília nesta segunda-feira. Israel vetou saída de outras 24
Chegou ao Brasil na madrugada desta segunda-feira, 11, o segundo voo com brasileiros e palestinos repatriados da Faixa de Gaza, zona de conflito entre Israel e Hamas. O avião, operado pela Força Aérea Brasileira, pousou na Base Aérea de Brasília transportando 48 pessoas.
O grupo havia deixado Gaza rumo ao Egito no sábado 9 através da cidade de Rafah. Dali, partiu para a cidade do Cairo, onde aguardou o avião da FAB. Segundo o Itamaraty, a lista inicial apresentada aos governos envolvidos para autorização de saída era composta por 102 nomes, mas 24 tiveram sua saída negada, incluindo sete com dupla nacionalidade.
Dos 78 previstos na lista autorizada, cruzaram a fronteira de Rafah em direção ao Egito 11 binacionais brasileiro-palestinos e 36 palestinos, sendo 27 menores, 16 mulheres (2 idosas) e 4 homens adultos. Além dos 47, uma jovem já aguardava no Cairo.
Ainda de acordo com o Itamaraty, desde 10 de outubro, 1524 brasileiros e familiares próximos foram retirados da região de conflito, sendo a maioria de Israel. Ao todo, foram realizados 11 voos da Operação Voltando em Paz. O primeiro grupo resgatado pelo governo brasileiro de Gaza continha 32 pessoas e chegou ao país no dia 13 de novembro.
RECOMEÇO DE VIDA
Eles foram recebidos pelo secretário nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), André Quintão, por integrantes da FAB e por equipes do Ministério da Saúde, já num trabalho integrado de acolhimento do Governo Federal.
“Num primeiro momento, eles ficarão de dois a três dias aqui em Brasília. A primeira etapa é do apoio psicológico, de imunização, de estabelecer contato com familiares e parentes deles no Brasil e a questão da documentação. Alguns vão para as casas de familiares e amigos. Os que estiverem sem referência, serão abrigados no Sistema de Assistência Social em instituições em que tenham todo o apoio de acolhimento, alimentação. Um suporte para eles reconstituírem as trajetórias, já que vêm de uma situação bastante complexa”, detalhou Quintão. Segundo ele, o sentimento geral é de alívio e de cansaço pela longa viagem.
Para Mohammed Adwan, o horizonte é de recomeço, de reinício de uma vida. Ele esperou por cerca de 35 dias pela inclusão do nome dele e de seus familiares na lista dos repatriados aprovados para cruzar a fronteira. Com a voz embargada ao lembrar do que viveu, ele prefere falar apenas do futuro. “Estamos bem. Quero… Começar a vida de novo. Agora no Brasil. Com conforto e segurança para as crianças. Eles vão voltar à escola em fevereiro”, afirmou.
Outra integrante do grupo é Yasmeen Rabee, irmã de Hasan Rabee, que veio antes com a esposa e os filhos num outro voo que trouxe repatriados de Gaza. “A situação em Gaza é muito difícil. Bombardearam nossa casa. Ficamos sem comida e sem um lugar fixo para morar”, disse ela, que veio agora com a mãe. “Lá você dorme sem saber se vai acordar ou não. Perdi muitos amigos, minha tia e os filhos dela”, lamentou.
“Estou me sentindo muito feliz de chegar ao Brasil. A recepção aqui é algo que eu nunca vi antes. Estou muito empolgado”, afirmou o jovem Yahia Sada, de 17 anos. Ele aguarda para reencontrar o pai, que vive em São Paulo.
AJUDA MÉDICA
A capitã médica Kelly Gomes concluiu nesta segunda o quarto voo na Operação Voltando em Paz. Ela compõe o time de saúde física e mental oferecido pelo Governo Federal aos passageiros dos voos de repatriação. A intenção é criar um ambiente de cuidado e leveza, tanto para crianças quanto para os adultos, muitos deles com sintomas de estresse pós-traumático. O voo do Egito, segundo ela, foi praticamente sem intercorrências, apenas com uma criança com náusea e vômito, tratada com medicação oral.
“Foi bem tranquilo. Sempre o nosso diferencial é o acolhimento. Criar um ambiente tranquilo. Nós improvisamos brinquedos com luvas para entreter as crianças porque a perna de viagem é grande, de 14 horas. Nossa função na vida é proteger a vida de outras pessoas. Por isso sempre cada voo tem conotação especial. Sempre quando vejo as crianças entrando e subindo a escada, a emoção vem”, contou.
(com Agência Brasil)