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Segredos revelados: os documentos confidenciais sobre a guerra da Ucrânia

Uma pilha de dados da Defesa americana vaza nas redes sociais, constrangendo o Pentágono e mostrando o alcance da espionagem no conflito

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h58 - Publicado em 14 abr 2023, 06h00
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  • Das profundezas da internet, fotos de documentos impressos, amassados e com marcas de dobras trouxeram à tona nos últimos dias uma série de informações secretas provenientes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, a maior parte relativa à guerra na Ucrânia e muitas escancarando a vigilância de aliados — sinal de que a espionagem, tema de livros e filmes que parecia ultrapassado pós-Guerra Fria, segue firme e operante neste século XXI. A sensibilidade das revelações, associada à sua atualidade (há detalhes de fevereiro) e à escala do vazamento — até agora, uma centena de planilhas e textos viralizados pelo Telegram e Twitter —, causou enorme embaraço ao Pentágono. “Não sabemos quem está por trás disso. Não sabemos seus motivos. E não sabemos o que ainda pode aparecer”, admitiu John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

    Os documentos, de veracidade confirmada, descrevem as forças militares russas na Ucrânia como um contingente cansado e mal aparelhado. Também relatam a influência do grupo paramilitar Wagner e dão pista do tamanho do nariz das agências americanas no alto-comando, ao citar horários e armamentos de ataques da artilharia antes de eles acontecerem, o que certamente prejudicará o trabalho dos espiões daqui para a frente. “Os serviços de segurança da Rússia verão o vazamento como um alerta de que devem controlar melhor os dados sigilosos”, diz Tatiana Stanovaya, do Carnegie Endowment for International Peace, sediado em Washington. Uma planilha contabiliza as baixas — do lado russo, entre 189 500 e 223 000, dos quais 43 000 mortos em combate, e do ucraniano, 124 500 a 131 000, entre os quais 17 500 mortos em luta —, embora os números pareçam ter sido reduzidos em algum momento da trajetória do vazamento para favorecer o Kremlin.

    QUEM FOI? - O porta-voz John Kirby: sem pistas
    QUEM FOI? - O porta-voz John Kirby: sem pistas (Drew Angerer/Getty Images)

    A situação da Ucrânia, por sua vez, surge como muito delicada. A munição antiaérea estaria a ponto de se esgotar, bem como os estoques de alguns armamentos, o que afetaria a planejada contraofensiva prevista para as próximas semanas (Moscou estaria preparando a sua também). Ambos, a essa altura, tratam de refazer sua estratégia. Os relatórios deixam claro que a inteligência americana está infiltrada nas reuniões de Volodymyr Zelensky, o que era de se esperar, e também nas de aliados como o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, o do Egito, Abdul Al-Sisi, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Nem o presidente Lula escapa. Segundo os papéis, autoridades russas teriam manifestado, em uma reunião, apoio à proposta brasileira de formação de um grupo de países para buscar a paz, pois “criar um clube de mediadores supostamente neutros para lidar com a guerra enfraqueceria o conceito de agressor e vítima divulgado no Ocidente”.

    Ao que tudo indica, os primeiros documentos foram expostos, há mais de um mês, em um chat fechado da Discord, plataforma usada por gamers. Por se tratar de fotos de papéis amarfanhados, concluiu-se pela hipótese de vazamento, em vez de uma ação de hackers. No balanço final, saem perdendo a Rússia, pela facilidade com que é espionada, e os Estados Unidos, onde, como já se viu em outras ocasiões, o carimbo de “ultras­se­creto” é quimera.

    Publicado em VEJA de 19 de abril de 2023, edição nº 2837

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