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Rússia: um truque para maquiar os números de casos e mortes

O governo de Vladimir Putin exibe a mais baixa taxa de mortos pela Covid-19 do planeta; a "trapaça" está na definição da causa 

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 4 jun 2024, 14h33 - Publicado em 22 Maio 2020, 06h00

Na Rússia de Vladimir Putin, a realidade, às vezes, tem de se adaptar à conveniência que vem de cima. Com a popularidade em meros 59%, a mais baixa desde 2013, o todo-poderoso presidente alardeia a todo instante o número ínfimo de mortos no país (o menor do planeta) em decorrência da Covid-19: 0,9%, em comparação à média global de 7%, um índice de fazer ruborizar as nações europeias mais afetadas pela pandemia, todas com taxa de letalidade nos dois dígitos (veja o gráfico). Mas como a Rússia, onde o sistema de saúde público deixa a desejar, realizou essa façanha? Resposta: dando um jeitinho nas estatísticas, que ela defende com unhas e dentes como um método “excep­cio­nal­men­te preciso”.

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O número de casos confirmados de contágio do novo coronavírus em território russo passava de 300 000 na quinta-feira 21 — o segundo mais alto do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (1,5 milhão) e 26 000 a mais que o Brasil. O segredo das menos de 3 100 mortes até agora é a maneira como elas são contabilizadas. O atestado de óbito só menciona Covid-19 se a vítima, ao falecer, não apresentar nenhuma outra doença grave preexistente que o vírus tivesse potencializado. Até a morte número 1, de uma mulher de 79 anos, ocorrida em Moscou em 19 de março, teve reclassificação: acabou sendo atribuída a um coágulo e removida da lista de Covid-19. De acordo com Tatiana Golikova, vice-­primeira-ministra para assuntos de saúde, a Rússia faz a autópsia de 100% das mortes suspeitas para definir as causas. “Jamais manipulamos estatísticas oficiais”, proclamou ela, em tom indignado, como se remover da relação o cardiopata que pegou o vírus e, por causa dele, sofreu um ataque car­día­co fatal não fosse nada demais.

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Poderia ser pior. Diante do desafio do coronavírus, o Kremlin agiu rápido e fechou, ainda em janeiro, a longa fronteira do país com a China (que agora devolveu com a mesma moeda). Em meados de março, a Rússia registrava oficialmente menos de 100 novos casos por dia e Putin declarava o vírus “contido” e a situação “sob controle”. Essa posição só viria a mudar no início de maio, quando o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, admitiu haver 300 000 ocorrências apenas na capital — três vezes mais do que a contagem oficial apontava. “Ainda estamos em uma zona de alto risco. Temos 18 000 pacientes em estado grave nos hospitais”, disse Sobyanin na terça-feira 19. Outro ponto que indica subnotificação de mortes — escondido em um site do governo e pinçado por demógrafos russos — é o total de óbitos na capital em abril: mais de 11 800, quando a média dos cinco anos anteriores foi de 10 000. “O número de mortos em toda a Rússia pode ser até três vezes maior do que o dado oficial apresentado”, diz a pesquisadora Tatiana Mikhailova. Mesmo assim, pressionado pela retração de 5,5% na economia, Putin anunciou o relaxamento nacional da quarentena, autorizou a volta dos voos internos em 1º de junho e a retomada da alegria do povo, o futebol, no dia 21. Se ele quer, assim será.

Publicado em VEJA de 27 de maio de 2020, edição nº 2688

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