O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconheceu nesta quarta-feira, 30, que a Rússia aprecia o fato de a Ucrânia ter enviado suas demandas por escrito, mas afirmou que não há sinais de progresso na negociação entre os dois países. Na terça-feira, representantes ucranianos e russos se encontraram em Istambul, Turquia, para mais uma rodada de conversas.
“Não podemos constatar avanços. Esperamos um trabalho bastante longo”, disse Peskov a repórteres. Segundo ele, não há nada promissor no documento enviado por escrito e as partes do conflito têm um longo período de trabalho.
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinski, falou na terça-feira, pela primeira vez, sobre a possibilidade de um tratado entre Moscou e Kiev, depois de negociações que descreveu como “construtivas”.
Segundo Medinski, as propostas ucranianas incluem a renúncia de Kiev na intenção de entrar na Otan e o compromisso ucraniano de neutralidade permanente, sendo um país sem armas nucleares ou armas de destruição em massa ou tropas estrangeiras.
Em troca, disse o mediador russo, a Ucrânia exige garantias internacionais de segurança e assume que a Rússia não se oporá à entrada na União Europeia.
“Depois da conversa substancial de hoje, concordamos e propusemos um acordo, segundo o qual, a reunião entre os chefes de Estado (Vladimir Putin e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky), é possível simultaneamente com o início de um tratado”, indicou Medinski.
O próprio presidente da Rússia reconheceu nesta terça-feira, 29, que houve “avanços” nas conversas em Istambul, durante telefonema ao presidente da França, Emmanuel Macron. No entanto, o líder russo se manteve inflexível sobre o desejo de seguir com a ofensiva militar na Ucrânia e rejeitou o pedido do presidente francês por uma trégua em Mariupol, uma das cidades mais devastadas pelas tropas russas.
Apesar das promessas de cessar-fogo em algumas regiões da Ucrânia, feitas pelo Ministério da Defesa da Rússia, autoridades ucranianas afirmaram nesta quarta-feira, 30, que os ataques militares se intensificaram na cidade de Tchernihiv.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tratou o anúncio do Kremlin com desconfiança, afirmando que só acreditará na promessa da Rússia de reduzir seus ataques à Ucrânia quando isso de fato acontecer.
Em pronunciamento nesta terça-feira, 29, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também se mostrou cético e declarou que os ucranianos “não são pessoas ingênuas” e que a única coisa em que podem confiar é um resultado concreto.
As conversas de paz entre representantes dos dois países giraram em torno da exigência de Kiev por um cessar-fogo, e da condição imposta por Moscou da aplicação do estatuto de neutralidade à nação ucraniana. Além disso, o Kremlin também exige que o país vizinho reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk e península da Crimeia como um território russo.