A Rússia e a China vetaram nesta sexta-feira, 22, uma proposta de resolução apresentada pelos Estados Unidos ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), que pedia um cessar-fogo “imediato” na Faixa de Gaza. Isso ocorre depois de Washington também vetar outros três projetos apresentados por outros países, incluindo o Brasil, anteriormente.
Com o resultado da votação, o Conselho de Segurança pode votar ainda nesta sexta, ou nos próximos dias, um segundo projeto de resolução, com uma linguagem mais dura. O novo texto, que não tem aval dos Estados Unidos, pede um “cessar-fogo imediato” durante o mês sagrado do Ramadã e que isso leve a uma trégua “permanente e sustentável”. Além disso, a suspensão dos combates não está condicionada a nenhum ato.
O governo americano chamou a atitude de Moscou e de Pequim como “cínica” e uma “recusa em condenar o Hamas”.
O que estava à mesa
Os americanos haviam apresentado uma proposta condicionando a trégua no enclave palestino à libertação dos reféns mantidos pelo Hamas no conflito com Israel, que se aproxima de seis meses. O texto uma mudança de tom de Washington.
“Esperamos sinceramente que os países apoiem isso. Penso que isso enviaria uma mensagem forte, um sinal forte. Mas, claro, apoiamos Israel e o seu direito de se defender”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em entrevista ao canal de notícias estatal da Arábia Saudita, Al Hadath. “Acho que as disparidades estão diminuindo e acho que um acordo é muito possível”, acrescentou.
O texto mais atualizado da resolução dos Estados Unidos, obtido pela agência de notícias AP, “apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais para estabelecer um cessar-fogo imediato e sustentado como parte de um acordo que liberta os reféns e que permite a base para uma paz mais duradoura para aliviar a crise humanitária”. O texto anterior usava o termo “temporário”, que agora foi substituído.
Apoio dos EUA a Israel
Na entrevista â Al Hadath, em novo giro pelo Oriente Médio, Blinken foi questionado sobre como Washington pode estar pressionando Israel a realizar um cessar-fogo imediato enquanto “continua a apoiá-los financeira e militarmente”, e tendo vetado, nas Nações Unidas, todas as últimas propostas de resolução que pediam o fim dos combates.
O chefe da diplomacia americana justificou que a resolução dos Estados Unidos perante o Conselho de Segurança “pede um cessar-fogo imediato vinculado à libertação de reféns”. Ele também enfatizou que seu país continua “ao lado de Israel e do seu direito de se defender”, mas que, ao mesmo tempo, “é imperativo que nos concentremos nos civis que estão em perigo e que sofrem tão terrivelmente e que os tornemos uma prioridade”.
“Estamos pressionando por isso o máximo que podemos”, garantiu Blinken.
Histórico americano na ONU
Os Estados Unidos já vetaram três resoluções anteriores do Conselho de Segurança da ONU que pediam a suspensão dos combates — a última delas, em fevereiro, porque se opuseram justamente à palavra “imediata”. No entanto, o governo do presidente americano, Joe Biden, começou recentemente a circular o seu próprio projeto que mencionava pela primeira vez um cessar-fogo, embora com várias condições.
No início de março, a vice-presidente americana, Kamala Harris, apelou por um “cessar-fogo imediato”. Nesta semana, com o iminente ataque de Israel em Rafah, cidade que abriga quase 1,5 milhão de palestinos que foram deslocados de outras regiões do enclave pela guerra, o próprio Biden disse que a incursão seria “um erro” e fez críticas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.