Autoridades da Rússia anunciaram nesta terça-feira, 29, a abertura de uma investigação por “fraude em larga escala” contra o opositor Alexei Navalny, no exterior desde seu suposto envenenamento em meados deste ano.
O Comitê de Investigação informou em um comunicado que suspeita que Navalny tenha gasto para uso pessoal 356 milhões de rublos, o equivalente a 4,8 milhões de dólares, de doações coletadas por várias organizações, entre elas algumas de luta contra a corrupção e a favor dos direitos humanos.
As autoridades mencionam em particular as doações ao Fundo de Combate à Corrupção, fundado pela oposição, e as de cinco outras organizações de direitos humanos das quais Navalny é o “diretor de facto”.
A Comissão de Investigação sustenta que o opositor utilizou esse dinheiro “para aquisição de bens pessoais e materiais, assim como para pagamento de despesas”, incluindo férias no exterior. A legislação russa prevê uma pena de até dez anos de prisão por este delito.
“Parece que (o presidente russo Vladimir) Putin está tendo um ataque de histeria”, reagiu o opositor no Twitter e pediu a seus seguidores que “zombem” dessa nova investigação continuando a doar para suas organizações.
Ele também afirmou que o novo caso estava relacionado a seu suposto envenenamento na Sibéria no final de agosto, quando alegou ter sido vítima de um ataque ordenado pelo Kremlin com um agente neurotóxico.
Ferrenho crítico ao governo russo, Navalny, 44 anos, ficou gravemente doente em 20 de agosto por envenenamento pouco depois de embarcar em um voo na Sibéria, para onde viajou para participar na campanha da oposição nas eleições locais e regionais.
A Rússia afirma que não existem provas de tal crime, apesar de Navalny ter desmaiado em um avião na Sibéria e os resultados de três laboratórios europeus estabelecerem que ele foi envenenado.
“Eles tentam me mandar para a prisão porque eu não morri e então procurei meus assassinos”, disse Navalny nesta terça-feira.
Recentemente, Putin afirmou que, se a Rússia tivesse a intenção de matar o político, ele estaria morto. De acordo com o presidente, Navalny teria ligações com a Inteligência dos Estados Unidos, por isso seria monitorado por agentes russos.
“O paciente da clínica de Berlim tem o apoio dos serviços especiais americanos. E, por isso, deve ser vigiado pelos serviços especiais. Mas isso não significa que tivessem de envenená-lo”, disse, em referência ao hospital para o qual Navalny foi levado na Alemanha depois de ser transferido de outro hospital na cidade de Omsk, na Sibéria.
“Se quiséssemos isso, então se teria sido feito o necessário (Navalny estaria morto)”, afirmou em entrevista coletiva anual, em 17 de dezembro.
Se negando a pronunciar o nome do adversário político, ele rejeitou a recente investigação divulgada por vários meios de comunicação, entre eles a rede americana CNN e o alemão Der Spiegel, que atribui a responsabilidade do envenenamento ao FSB, os serviços secretos russos, herdeiros da KGB.
A reportagem não estabelece, porém, qualquer contato direto entre esses agentes e Navalny, nem qualquer prova de que se tenha passado para a ação, ou de alguma ordem dada nesse sentido.
A equipe de Navalny afirma que foram encontrados vestígios de Novichok em uma garrafa retirada de seu quarto de hotel na Sibéria, onde estava para participar da campanha de apoio aos candidatos de oposição nas eleições locais.