O rei Charles III reconheceu os “aspectos dolorosos” do passado do Reino Unido durante a cúpula dos líderes da Commonwealth em Samoa nesta sexta-feira, 25, em meio a crescentes pedidos de justiça em relação ao tráfico transatlântico de escravos. Durante discurso na cúpula bienal que reuniu 56 mandatários de nações com raízes no antigo Império Britânico, o monarca afirmou que “nenhum de nós pode mudar o passado, mas podemos nos comprometer a aprender suas lições”.
Em sua primeira cúpula desde a ascensão ao trono em 2022, após a morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II, Charles também apelou por união, pedindo aos líderes que “encontrem as maneiras e a linguagem certas” para abordar os problemas contemporâneos com raízes no passado.
“À medida que observamos o mundo e seus muitos desafios profundamente preocupantes, vamos, dentro da família da Commonwealth, optar pela linguagem da comunidade e do respeito, rejeitando a linguagem da divisão”, afirmou.
Pedidos por reparação
O debate sobre reparações pela escravidão tem ganhado força nos últimos anos, e a Commonwealth intensificou apelos para que o Reino Unido se desculpe e faça pagamentos de trilhões de libras em resposta ao seu papel histórico no tráfico de escravos.
Diversos líderes presentes na cúpula esperavam que Charles aproveitasse seu discurso para pedir desculpas pelo passado colonial britânico e que o evento deste ano se comprometesse com o debate sobre justiça reparatória. O rei, por sua vez, demonstrou compreensão sobre as preocupações, mas evitou abordar diretamente o tema.
“Eu entendo ao ouvir as pessoas em toda a Commonwealth como os aspectos mais dolorosos do nosso passado continuam a ressoar. É vital, portanto, que entendamos nossa história para nos guiar a fazer as escolhas certas no futuro”, disse o monarca.
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Apesar do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que participa da cúpula ao lado do rei, ter alegado que a questão das reparações não está na agenda do encontro, um rascunho do comunicado da cúpula, divulgado à emissora britânica BBC, revelou que os líderes da Commonwealth podem passar por cima da decisão britânica e inserir a discussão na pauta.
O rascunho indica que os líderes da Commonwealth desempenhariam “um papel ativo em promover conversas inclusivas abordando esses danos” e que concordaram em “priorizar pesquisas adicionais e mais aprofundadas sobre o comércio transatlântico de africanos escravizados que encorajem e apoiem o caminho a seguir”.
Tráfico de escravos
Entre 1640 e 1807, a Grã-Bretanha escravizou cerca de 3,1 milhões de africanos, despachando-os a colônias ao redor do mundo. Muitas dessas pessoas foram enviadas ao Caribe para trabalhar nas lucrativas plantações de cana-de-açúcar, gerando riqueza para seus proprietários.
Sucessivos governos britânicos resistiram a pedidos por um pedido de desculpas formal ou por reparações. A justiça pela escravidão pode vir de muitas formas, incluindo transferências financeiras, alívio de dívidas, um pedido oficial de perdão, programas educacionais, construção de museus, apoio econômico e assistência à saúde pública.
Um relatório da Universidade das Índias Ocidentais revelou recentemente que o Reino Unido deve mais de 18 trilhões de libras (mais de R$ 132 trilhões) em reparações relacionadas à escravidão em 14 países caribenhos.
Nos últimos anos, a monarquia britânica tem adotado um tom mais conciliatório ao abordar os horrores da escravidão. Durante sua visita ao Quênia em novembro, Charles expressou tristeza e “profundo arrependimento” pelos “erros do passado”. Na cúpula anterior da Commonwealth, em Ruanda, ele destacou a necessidade de “encontrar novas maneiras de reconhecer nosso passado”.