A israelense Yocheved Lifshitz, de 85 anos, sequestrada pelo Hamas no dia 7 de outubro e libertada duas semanas depois pelo grupo terrorista palestino, descreveu nesta terça-feira, 29, um embate que teve com um dos líderes do grupo, Yahya Sinwar, dentro da rede de túneis de Gaza, sobre os atos de violência empregados contra civis.
“Sinwar esteve conosco três ou quatro dias após a nossa chegada”, revelou ela ao jornal hebraico Davar. “Perguntei-lhe como é que ele não se envergonha de fazer o que fez com pessoas que, por todos estes anos, apoiaram a paz”, completou, afirmando que confrontou-o quando a liderança palestina visitou os reféns detidos nos túneis.
“Ele não respondeu. Ele ficou em silêncio”, disse ela.
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Yocheved é uma ativista pela paz junto ao marido, Oded, de 83 anos. Ambos ajudaram palestinos doentes em Gaza durante anos a terem acesso a cuidados médicos. Ele também foi capturado pelo Hamas no kibutz Nir Oz, uma comunidade no sul de Israel, mas diferente da esposa permanece sob custódia dos terroristas.
No mês passado, Yocheved relatou a repórteres que “passou por um inferno” ao longo da estadia forçada na Faixa de Gaza. Segundo a vítima, ela teria sido espancada no momento do sequestro. Depois, durante as semanas de cativeiro, teria sido tratada com “gentileza”. Ela foi uma das quatro mulheres libertadas pelo Hamas ainda no início da guerra, antes do acordo de cessar-fogo com Israel.
Relatos selvagens
Após a libertação de mais reféns pelo Hamas, em meio à trégua negociada entre as partes, familiares das vítimas começaram a compartilhar as primeiras histórias sobre os dias vividos em cárcere. Muitos dizem que foram espancados, ameaçados de morte, transportados de um lugar para outro várias vezes e forçados a se comunicar apenas com sussurros durante semanas.
“Sempre que uma criança chorava lá, nos ameaçavam com uma arma para fazê-la fica quieta”, afirmou à TV francesa BFM a tia de uma das crianças raptadas pelos militantes, Deborah Cohen. “Quando chegaram a Gaza, todos foram espancados. Estamos falando de uma criança de 12 anos”, completou.
Outra família contou que duas meninas, mantidas juntas no cativeiro, mal falam agora que regressaram para casa.
“Tive que colocar meu ouvido perto de sua boca para ouvir. No cativeiro, ela foi orientada a não fazer barulho. Você pode ver o terror em seus olhos”, descreveu Thomas Hand, pai de Emily Hand, de 9 anos.
Muitas das mulheres e crianças israelenses nas primeiras levas de reféns livres das garras do Hamas foram levados às pressas para hospitais. A maioria permanece longe dos holofotes da mídia.
O que diz o Hamas?
O grupo extremista afirmou que seu tratamento dos reféns segue os preceitos islâmicos de preservação da vida e bem-estar. Além disso, atribuem a morte de algumas pessoas capturadas aos ataques aéreos protagonizados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI).
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 15 mil mortes foram registradas em Gaza desde o início da contraofensiva israelense.