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Rebelião pop: Tailândia tem protestos inspirados na franquia Jogos Vorazes

Jovens desafiam as leis antissubversão e ocupam as ruas, pedindo a renúncia do governo e bradando contra a intocável monarquia

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h07 - Publicado em 2 out 2020, 06h00

Fenômeno dos tempos atuais produzido pelas redes sociais, os protestos sem liderança definida tomam as ruas das cidades, em defesa das mais variadas causas. Tem sido assim em Hong Kong, na luta contra a dominação do governo de Pequim; em Minsk, capital da Belarus, no esforço para depor um governo ditatorial; em Portland, no estado americano do Oregon, para denunciar o racismo e a violência policial; e em Londres, para chamar a atenção para a causa ambiental, entre outros muitos exemplos. Em agosto e setembro, o palco das insatisfações populares instalou-se em Bangcoc, capital da Tailândia, sob risco de feroz retaliação — o país tem rígida legislação contra atitudes subversivas, guarda-chuva onde se abrigam reclamações de todo tipo. Os manifestantes tailandeses são jovens dispostos a mudar seu mundo: querem afastar os militares da política e, pecado dos pecados, tirar poder e mordomias do intocável rei Maha Vajiralongkorn, por eles chamado de “aquele que não pode ser nomeado”.

A referência ao vilão Voldemort, das histórias de Harry Potter, faz parte do repertório pop dos estudantes da Tailândia que, quase todos de máscaras cirúrgicas, comparecem às manifestações de fins de semana convocadas pela internet usando os óculos redondos do bruxinho e têm como marca registrada os três dedos para o alto, saudação da heroína Katniss Everdeen, ela também em luta contra a opressão na saga Jogos Vorazes. Iniciados ainda antes da pandemia, na forma de atos nas escolas contra normas que definem do corte de cabelo ao costume de se curvar até o chão diante dos professores, os protestos agora têm como motor principal a crise econômica. O país teve menos de sessenta mortes registradas por Covid-19, mas o PIB deve recuar 8,5% este ano, por causa do refluxo no turismo. Descontentes com o governo do primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha, general reformado que manobrou para permanecer à frente da junta militar mesmo tendo perdido a eleição de 2014, eles querem mais democracia, uma nova Constituição e a dissolução do Parlamento. De todas as reivindicações, porém, a de maior efeito é a que exige “o fim do feudalismo”, um ataque direto ao rei que assumiu o trono em 2016 e se esmera em tomar medidas impopulares e solapar sua imagem perante os súditos.

Na Tailândia, falar mal do rei é crime de lesa-majestade punível com até quinze anos de cadeia. Maha Vajiralongkorn, em gesto magnânimo, instruiu o governo a não processar ninguém nesses termos, o que não impede que muitos sejam indiciados por delitos como sedição e infrações cibernéticas. Não que o monarca seja incomodado pelo grito que vem das ruas. Maha Vajiralongkorn e comitiva estão hospedados em um hotel de luxo nos Alpes bávaros, na Alemanha, desfrutando da fortuna de 40 bilhões de dólares, que faz dele um dos soberanos mais ricos do mundo. Não por acaso, nos últimos dias a hashtag #RepúblicaDaTailândia figurou entre as mais usadas nas redes sociais. Apesar dos protestos que não param, o governo não dá sinais de ceder ou mesmo de negociar com os manifestantes. “A monarquia avaliza a cúpula dirigente e conta com seu apoio”, diz Christine Cabasset, do Instituto de Pesquisas sobre o Sudeste Asiático, de Bangcoc. O novo teste de resistência já está marcado: uma greve geral convocada pelos manifestantes para 14 de outubro. O jogo dos jovens tailandeses fica, de fato, cada vez mais voraz.

Publicado em VEJA de 7 de outubro de 2020, edição nº 2707

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