Rainha Elizabeth II é citada em vazamento de dados Pandora Papers
Documentos citam negociações financeiras entre corporação pertencente à monarquia britânica e família do governante do Azerbaijão
O vazamento de dados Pandora Papers jogou luz sobre atividades financeiras secretas de altos membros dos governos de mais de 90 países, com a exposição de mais de 11,9 milhões de documentos confidenciais. E a rainha Elizabeth II também se encontra nesta lista, em investigação liderada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigações (ICIJ) e revelada no último domingo, 3.
De acordo com a cobertura do Pandora Papers, a The Crown State, corporação pertencente à monarca, teria comprado uma propriedade de 91 milhões de dólares da família governante do Azerbaijão.
Embora a The Crown State seja ligada à família real, a rainha, no entanto não está envolvida em decisões administrativas. Todos os lucros provenientes de seu vasto portfólio vão ao Tesouro britânico, embora uma parte seja devolvida à Família Real como fundos públicos oficiais.
Em 2021, o montante foi de 117 milhões de dólares, equivalente a 25% dos lucros da empresa, incluindo um extra de 10% para cobrir serviços no Palácio de Buckingham.
Os documentos também revelam que a família do presidente azeri, Ilham Aliyev, negociou quase 545 milhões de dólares em propriedades no Reino Unido nos últimos 15 anos.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, a empresa comprou a propriedade no endereço 56-60 Conduit Street, Londres, em 2018, e gerou um lucro ao vendedor de 42 milhões de dólares.
“Antes de nossa compra do 56-60 Conduit Street, conduzimos verificações, incluindo as exigidas pela lei do Reino Unido. Na época, não estabelecemos nenhuma razão pela qual a transação não deveria prosseguir. Dadas as possíveis preocupações levantadas , estamos investigando o assunto”, disse uma porta-voz da Coroa britânica.
Ainda segundo a apuração, o prédio era legalmente propriedade de uma empresa offshore, Hiniz Trade and Investment Ltd. Porém, os dados do Pandora Papers revelam que o proprietário era o filho do presidente Aliyev, Heydar, que tinha 11 anos em 2019, quando a propriedade foi adquirida. Depois foi transferida para Arzu Aliyeva, filha do presidente e então para o avô, Arif Pashayev.
Chamada de Pandora Papers, a apuração se concentra nas finanças secretas de mais de 300 funcionários públicos, incluindo ministros, juízes, prefeitos e generais de mais de 90 países em todo o mundo. O trabalho envolveu 600 jornalistas, que examinaram 1,9 milhões de documentos confidenciais de 14 escritórios de advocacia especializados na abertura de empresas em paraísos fiscais como Panamá, Ilhas Virgens Britânicas e Bahamas.
Uma análise dos documentos identificou 956 empresas em paraísos fiscais ligadas a 336 políticos e funcionários públicos de alto nível. Entre os líderes em atividade citados, três chefes de Estado latino-americanos ativos se destacam: Guillermo Lasso, do Equador, Sebastián Piñera, do Chile, e Luis Abinader, da República Dominicana.
Foram descobertos ainda novos detalhes sobre os principais doadores estrangeiros ao Partido Conservador, do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Os arquivos também detalham atividades financeiras questionáveis do chamado “ministro não oficial de propaganda” do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e sua esposa, Cherie Blair , também são citados. Eles supostamente adquiriram um edifício vitoriano em Londres, avaliado em 8,8 milhões de dólares, por meio da aquisição de uma empresa das Ilhas Virgens Britânicas registrada como proprietária legal do imóvel.
O ministro da economia brasileiro, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também aparecem no Pandora Papers. Ambos foram acusados pela investigação de criarem empresas em paraísos fiscais em segredo.