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Queremos que Brasil entre em plano de paz, diz diplomata ucraniano a VEJA

Segundo Anatoliy Tkach, encarregado de negócios da embaixada ucraniana em Brasília, conversa entre Lula e Zelensky também seria 'boa opção'

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 fev 2023, 08h00
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  • Em entrevista a VEJA, o encarregado de negócios na embaixada da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach, reforçou o interesse de que o Brasil participe do plano de paz proposto pelo presidente Volodymyr Zelensky, já que, segundo ele, o governo brasileiro teria expertise em “negociar com todas as partes envolvidas” no conflito, que completa um ano nesta sexta-feira, 24.

    Involuntariamente à frente da embaixada ucraniana no Brasil desde dezembro de 2021, quando o embaixador Rostyslav Tronenko voltou para seu país, Tkach afirma ainda que uma conversa entre o líder da Ucrânia e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva seria “uma boa opção”.

    Desde o início da invasão russa, o senhor pede uma resposta mais dura do Brasil em relação às agressões. O que a Ucrânia espera do Brasil na guerra com a Rússia?

    Desde o princípio, os três pilares para nossa defesa foram o abastecimento da Ucrânia com equipamentos militares, a ajuda econômica para garantir a estabilidade do funcionamento do país e da sua economia, e a ajuda humanitária, porque essa guerra provocou uma crise humanitária bem profunda. Um terço do país é de refugiados internos ou externos. Essas são nossas necessidades desde o primeiro momento do início da guerra.

    Em uma reunião com o presidente Lula, o chanceler alemão, Olaf Scholz, reiterou um pedido ao Brasil de munições para tanques, já vetado. Em termos concretos, qual tipo de apoio o Brasil pode oferecer a Kiev? Apenas munições? 

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    As munições entram nos três pilares. Nesse momento, estamos chegando a um ponto quando começa uma nova ofensiva. Ou seja, durante o período do outono e do início do inverno no hemisfério norte, as ações foram paradas. Houve uma pausa nas ofensivas e contra-ofensivas por causa da lama, que na Europa não deixa passar os equipamentos pesados. Nesse momento, as condições para que os equipamentos pesados cheguem já é melhor. 

    Dentro dos três pilares citados pelo senhor, qual acredita ser a prioridade, nesse momento? 

    O que precisamos mais é nos defender. Os equipamentos militares que precisamos são para nossa defesa. As sanções que estamos pedindo é para que a economia da Rússia não possa financiar essa guerra. A ajuda humanitária e financeira é a mesma coisa. Cerca de 350 mil soldados russos estão em território da Ucrânia, outros 150 mil estão na Rússia se preparando para se unir aos que já estão lutando.

    Todos os países do mundo estão entendendo agora que não se trata apenas da Ucrânia, mas se trata da violação da ordem mundial, criada depois da Segunda Guerra. Se, neste momento, não fizermos o que deve ser feito, não parar o agressor, não punir aqueles que cometeram crimes, isso pode voltar acontecer depois em qualquer outra parte do mundo. Um agressor em potencial pode ver essa impunidade e repeti-la.

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    Os principais países do Ocidente avançaram desde o início da guerra em direção a sanções. O Brasil não se posiciona abertamente nesse tema…

    A posição da Ucrânia é que, com o comércio internacional, a Rússia consegue acumular dinheiro. Por isso foi tomada a decisão de introdução de sanções, que estão crescendo cada vez mais, quase a cada dia. 

    No caso do Brasil, uma questão que é muito sensível aqui, as sanções não estão introduzidas contra fertilizantes. Estão introduzidas contra gás, petróleo e indústrias que produzem armamentos. Como foi possível ver ano passado, o Brasil importou os fertilizantes tanto quanto necessitava. Não havia restrições. Em teoria, não haveria qualquer prejuízo ao Brasil. 

    Em entrevista no ano passado, o presidente Lula disse que Volodymyr Zelensky seria tão responsável pela guerra quanto Vladimir Putin. Como o senhor vê essa frase?

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    Estamos falando sobre um agressor e uma vítima. Posso apenas dizer que a Ucrânia está se defendendo no seu próprio território e está se defendendo contra uma força muito grande. Calculando só as Forças Armadas de Moscou, as pessoas que estão servindo, já é maior do que a Ucrânia. Os russos cometeram quase 70.000 crimes, que devem ser punidos. 

    Para nós, não é uma opção deixar de nos defender. Temos que não só defender a terra, mas também as pessoas. É uma defesa da ordem internacional. Se pararmos de nos defender, não vai existir mais Ucrânia. Se a Rússia parar a agressão, a guerra vai parar. A Ucrânia não pode parar porque vai deixar de existir. 

    O presidente Lula propôs a criação de um grupo de países para mediar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. Como essa proposta é vista?

    A Ucrânia, desde o primeiro dia da agressão, até antes, é a única que procurava a paz. A paz para seguir o desenvolvimento do país. Estamos negociando com todos os parceiros possíveis, com todos os países que podem ter alguma influência para conseguir essa paz. Fazemos isso diariamente. 

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    Gostaríamos que o Brasil participasse dos esforços, que o Brasil participasse desse plano de paz, proposto pelo presidente Zelensky. Especialmente pela possibilidade de negociar com todas as partes envolvidas.

    Também no ano passado, Zelensky e Bolsonaro conversaram por telefone. É hora de um encontro do presidente ucraniano com o presidente Lula?

    Agora, durante a visita do chanceler alemão ao Brasil, o presidente Lula mencionou que está pronto para conversar com o presidente Zelensky. Acho que essa conversa seria uma boa opção. 

    Há como fazer negociações de paz neste momento, entre relatos de uma escalada nos confrontos?

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    Esse momento é importante e consideramos que a primavera e o verão vão ser decisivos no curso da guerra. Entendemos que vai começar uma nova ofensiva em grande escala, que a Rússia estava se preparando para isso durante o período em que a natureza não permitia as ações.

    Esse é o momento em que nós temos que garantir essa guerra vai parar, impedir essa grande quantidade de soldados e equipamentos. Temos, primeiro, que defender e depois realizar uma contra-ofensiva para liberar os territórios da Ucrânia, garantindo nossa integridade territorial. 

    Assim como outros países, a Ucrânia disse que vai boicotar os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, caso atletas russos e bielorrusos tenham o direito de competir. O Brasil deveria engrossar essa lista?

    A Rússia está investindo muito não só na guerra, mas também na propaganda. Um dos elementos disso são os atletas que estão participando. Muitos estão apoiando o que está acontecendo. Um dos movimentos globais foi o isolamento da Rússia do cenário mundial. 

    É inaceitável a participação dos atletas, mesmo com uma bandeira neutra. É um dos elementos da propaganda russa e da propaganda da guerra. 

    Além da estratégia de guerra, a Ucrânia lançou uma campanha anticorrupção. Corrupção em tempos de guerra é ainda pior? O que essas medidas representam em termos de relações exteriores?

    A corrupção é sempre uma praga em qualquer Estado. É ainda mais vergonhoso em tempos de guerra, quando o país está precisando do dinheiro de fora para continuar resistindo, quanto toda a nação está se unindo.

    Para a Ucrânia, é especialmente muito importante isso, porque sempre estava se sentindo como quem pertence à família europeia. Compartilhamos os valores e a cultura europeia. E esses valores exigem essa luta contra a corrupção.

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