Quem é o ‘Senhor das Armas’ no centro de negociações entre EUA e Rússia

O traficante de armas russo Viktor Bout, que inspirou o personagem de Nicolas Cage no filme O Senhor das Armas, pode estar ligado a uma possível troca por dois cidadãos americanos detidos na Rússia. Preso desde 2012 nos Estados Unidos, o “Mercador da Morte” pode ser enviado de volta ao seu país em troca das libertações da estrela de basquete Brittney Griner e do ex-fuzileiro naval Paul Whelan. 

Na última quinta-feira, 27, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que Washington havia feito “uma oferta substancial” a Moscou para libertá-los, afirmando dois dias depois que pressionou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, a aceitar a proposta. 

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Blinken se recusou a dizer que os Estados Unidos estavam sugerindo uma troca. No entanto, de acordo com a rede CNN, a oferta em questão tinha como objetivo enviar Bout para a Rússia em troca de Griner e Whelan. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores disse que Lavrov sugeriu ao secretário de Estado que os dois lados voltassem à diplomacia silenciosa sobre a questão da troca de prisioneiros “em vez de lançar informações especulativas”.

O Kremlin pede há anos a soltura do traficante, criticando sua sentença, dada em 2012, como “infundada e tendenciosa”. Em contrapartida, a Casa Branca também considera as prisões de Whelan e Griner injustas.

O ex-fuzileiro naval foi detido por supostas acusações de espionagem em 2018 e sentenciado a 16 anos de prisão, enquanto a jogadora de basquete foi julgada sob acusação de posse de drogas após ser detida em um aeroporto de Moscou, em fevereiro.

Suas famílias pediram ao governo americano que garanta suas libertações, inclusive por meio de troca de prisioneiros, se necessário, o que coloca Bout no centro das negociações. Ex-oficial militar soviético, ele cumpre pena de 25 anos em solo americano após ser capturado na Tailândia, causando uma longa batalha judicial que provocou tensão entre Washington e Moscou. 

Por quase duas décadas, ele usou de seu domínio sobre várias línguas para se tornar o traficante de armas mais notório do mundo, vendendo armamento para Estados e grupos rebeldes na África, Ásia e América do Sul. 

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Sua biografia é ainda muito desconhecida, mas relatos apontam que ele nasceu em 1967 no Tajiquistão, à época parte da União Soviética. Anos mais tarde, ele teria alcançado o posto de tenente no Exército soviético, servindo como tradutor militar em vários países, inclusive Angola, que se tornou fundamental para seu sucesso. 

Sua ascensão aconteceu durante o fim do bloco socialista, entre os anos de 1989 e 1991. Bout se aproveitou do excesso de armamento deixado para trás pelos soviéticos para alimentar guerras civis, principalmente na África e na Ásia. Além disso, o traficante conseguiu se apropriar também de cerca de 60 aeronaves abandonadas pela União Soviética nos Emirados Árabes Unidos, utilizando-as para transportar suas mercadorias. 

Desse modo, o russo se tornou uma das pessoas mais procuradas na virada do milênio e seu modelo de negócios, que deixava de lado qualquer ideologia política, tornava difícil a sua captura. Sua queda aconteceu apenas em 2008, após operação secreta feita pelos Estados Unidos. 

Nela, Bout foi flagrado concordando em vender 100 mísseis terra-ar a agentes americanos disfarçados que se apresentavam como representantes das FARC, grupo de guerrilheiros revolucionários da Colômbia, que seriam usados para matar tropas americanas. 

Após mais de dois anos de disputas diplomáticas envolvendo Rússia e Estados Unidos, o traficante foi extraditado para solo americano, onde enfrentou uma série de acusações, incluindo conspiração para apoiar terroristas e matar americanos, além de lavagem de dinheiro.

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“Viktor Bout tem sido o inimigo número um do tráfico internacional de armas por muitos anos, armando alguns dos conflitos mais violentos ao redor do mundo. Ele finalmente foi levado à justiça em um tribunal americano por fornecer um número impressionante de armas de nível militar para uma organização terrorista comprometida em matar americanos”disse o promotor do caso em 2012, durante sentença.