Michel Barnier foi nomeado primeiro-ministro da França pelo presidente Emmanuel Macron nesta quinta-feira, 5, quase dois meses após as eleições legislativas que transformaram o parlamento. A escolha gerou polêmica, já que ele faz parte do partido Republicanos, da direita tradicional, e quem venceu o pleito foi a coalizão de esquerda Nova Frente Popular – que acusou o presidente de ter “roubado” as eleições do povo francês.
Natural de Haute-Savoie, nos Alpes, Barnier ingressou na política aos 27 anos, quando foi eleito ao parlamento pela primeira vez em 1978. Desde então, ocupou os cargos de ministro do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Agricultura, sob as presidências de François Mitterrand, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.
O político de 73 anos também atuou duas vezes como comissário europeu, bem como conselheiro da chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O novo primeiro-ministro é um convicto apoiador da União Europeia e membro do conservador partido Republicano, que representa a direita tradicional na França. Ele é conhecido no cenário internacional por seu papel como negociador-chefe da União Europeia durante a saída do Reino Unido do bloco europeu, um processo que durou quatro anos.
Com uma carreira política que se estende por quase cinco décadas, ele tem mais do que o dobro da idade do antigo primeiro-ministro Gabriel Attal. Enquanto Attal foi a pessoa mais jovem da história da França a ocupar o cargo, Barnier é o mais velho, sendo apelidado pela extrema direita de “Joe Biden francês”.
Graduado da Escola Superior de Comércio de Paris, ele se descreve como um “patriota e europeu” e afirmou ao portal de notícias POLITICO, em julho, que as questões mais urgentes da França eram a imigração, o déficit público e a reconstrução de suas capacidades industriais e agrícolas.
Propostas controversas
Inicialmente visto como um representante da ala social do partido Republicano, Barnier se posicionou mais à direita em 2021, quando retornou à política francesa e disputou as primárias de seu partido para as eleições presidenciais de 2022, mas não conseguiu obter apoio suficiente para virar candidato.
Suas propostas, muitas vezes alinhadas à extrema direita, incluíam a realização de um referendo para restringir a imigração na França, o que é proibido pela legislação internacional e da UE. Barnier também pediu que seu país “não estivesse mais sujeito aos julgamentos” do Tribunal de Justiça da União Europeia e do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, provocando espanto em Bruxelas.
Além disso, ele defendeu a construção de 20 mil novas prisões e a reimplementação de sentenças mínimas obrigatórias para diversos crimes e contravenções.
Futuro incerto
As chances de Barnier formar um governo estável não são claras. Atualmente, o partido ultradireitista de Le Pen, Reagrupamento Nacional, é uma das maiores forças políticas no parlamento, tendo ficado em segundo lugar nas eleições legislativas antecipadas. A legenda sugeriu, anteriormente, que estaria aberta a trabalhar com o ex-negociador do Brexit e não o vetaria imediatamente.
Já a coalizão de esquerda, Nova Frente Popular, conta com partidos da extrema esquerda, como o França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, que podem ter resistência em trabalhar com os Republicanos conservadores.