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Quem é a indígena que irá presidir a Assembleia Constituinte no Chile

Acadêmica e militante ativa da comunidade mapuche, Elisa Loncon participou intensamente de protestos iniciados em outubro de 2019 contra legado de Pinochet

Por Da Redação Atualizado em 5 jul 2021, 17h26 - Publicado em 5 jul 2021, 13h50

Com 96 votos a favor, os 155 candidatos que elaborarão a nova Constituição do Chile elegeram neste domingo, 4, Elisa Loncon, uma mulher indígena, para presidir o órgão que criará a nova lei fundamental do país. A Carta substituirá a atual, última herança política da ditadura de Augusto Pinochet e criticada por promover a privatização de serviços básicos, como água, educação e previdência. 

A acadêmica, linguista e ativista mapuche de 58 anos, foi eleita por maioria absoluta no segundo turno, na sessão inaugural da convenção realizada no antigo Congresso Nacional da capital, evento que foi interrompido por quase uma hora devido ao protesto de um grupo de constituintes.

“Quero agradecer a todo o povo chileno por ter votado em uma pessoa mapuche e mulher para mudar a história deste país”, comemorou Elisa após sua eleição, na língua mapudungun e depois em espanhol.

No discurso, ela ressaltou a multiculturalidade do país, instando “uma nova forma de ser democráticos”, com maior participação popular, sobretudo de classes historicamente marginalizadas.

Com este ato, o Chile deu início à elaboração de uma nova Constituição, a primeira do mundo elaborada por um órgão conjunto e a primeira do país a incluir os povos indígenas, grupo que representa 12,8% da população, mas que nunca tinha sido reconhecido na lei fundamental.

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A decisão reflete um momento político e social inédito no país após protestos em massa no último ano e a derrota de partidos governistas e tradicionais nas eleições para escolher os redatores da nova Constituição. Enquanto os independentes e a oposição de centro-esquerda obtiveram mais de 40% das cadeiras da Assembleia Constituinte, a direita, que se apresentava em uma chapa única formada pelos partidos governistas, não conseguiu alcançar o percentual de votos necessário para vetar artigos na nova Carta Magna.

Com esses resultados, figuras de fora da política que buscam canalizar as exigências dos cidadãos na crise social de 2019 devem ganhar lugares de importância na Comissão. Seu surgimento é visto por muitos especialistas como o início de um novo modelo de política cidadã e a certidão de óbito dos desacreditados partidos tradicionais.

Simbolismo

Embora o papel e as atribuições que a presidente terá ainda não estejam definidos, especialistas apontam a eleição de Elisa Loncon como um ato simbólico e histórico, uma homenagem ao feminismo e aos povos indígenas, e espera-se que ele atue como porta-voz e moderadora do debate.

Elisa Loncon ocupa uma das 17 cadeiras reservadas aos indígenas na convenção, sete das quais eram para o povo Mapuche, duas para os Aymara e um representante de cada um dos demais: Kawesqar, Rapanui, Yagan, Quechua, Atacameño, Diaguita, Colla e Chango.

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Entre as marcas que pretende imprimir na nova Constituição está o da multinacionalidade para que as línguas, culturas e territórios dos povos indígenas sejam reconhecidos, como afirmou recentemente em entrevistas a alguns meios de comunicação.

Uma das bandeiras defendidas por Loncon é a devolução de terras perdidas por povos indígenas na metade do século XIX, a partir de uma “política genocida” do Estado chileno contra comunidades tradicionais. Segundo ela, é preciso “algum tipo de reparação, como fizeram no Canadá, Austrália e Nova Zelândia”.

Também nesses casos, ela se referiu aos presos durante protestos sociais como “presos políticos”.

O processo constituinte nasceu em 2019 como um acordo entre os partidos políticos para tentar amenizar a maior crise social em três décadas de democracia, que eclodiu em outubro daquele ano com manifestações em massa por um modelo socioeconômico mais justo, e que deixou pelo menos 30 mortos e milhares feridos.

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O órgão terá até um ano para redigir a Constituição, a primeira feita através de um processo plenamente democrático na história do Chile e um texto que deverá ser endossado em outro plebiscito, no ano que vem, para substituir a atual Carta Magna, criticada por grande parte da sociedade.

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