As Coreias do Norte e do Sul se reunirão para conversas de alto-nível pela primeira vez em mais de dois anos nesta terça-feira (9) para discutir como os atletas do norte poderiam participar das Olimpíadas de Inverno no sul, mesmo com o crescente medo de um possível conflito envolvendo os dois países.
Apesar da restrita agenda das conversas bilaterais, focando principalmente no esporte, o encontro será observado de perto por líderes mundiais buscando algum sinal de que as tensões na Península Coreana podem estar diminuindo, em meio ao aumento da apreensão relacionada ao desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte, desafiando resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
“As conversas terão como foco a participação da Coreia do Norte nas Olimpíadas de Inverno de Pyeongchang e nossos preparativos têm se centrado em torno de algumas solicitações do norte pela realização de jogos olímpicos pacíficos”, disse nesta segunda Baek Tae-hyun, porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, em uma conferência de imprensa.
Alguns oficiais sul-coreanos esperam que as duas Coreias possam até mesmo desfilar sob uma única bandeira na abertura de uma cerimônia esportiva pela primeira vez em mais de uma década. Cinco altos oficiais de cada um dos dois lados irão se encontrar no edifício de três andares conhecido como “Casa da Paz”, localizado no lado sul-coreano de Panmunjon, a chamada “vila da trégua”, a partir das 10h locais na terça-feira (23h de segunda-feira, no horário de Brasília). Como de costume, câmeras e microfones serão instalados no prédio para garantir que ambos países possam monitorar a conversa em tempo-real.
Os Estados Unidos, com seus 28.500 soldados baseados na Coreia do Sul –um legado da Guerra da Coreia, ocorrida entre 1950 e 1953–, de início, responderam friamente à ideia de encontros inter-coreanos. O Departamento de Estado disse que Pyongyang “poderia estar tentando criar um racha” entre Washington e Seul, enfraquecendo a campanha americana para forçar a Coreia do Norte desistir do desenvolvimento de mísseis com pontas nucleares capazes de atingir os Estados Unidos.
O presidente americano, Donald Trump, passou boa parte do último ano ridicularizando as negociações com a Coreia do Norte, chamando-as de inúteis, e trocando insultos com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. Entretanto, na última quinta-feira, Trump chamou as novas conversas de “algo bom” e disse que elas estavam ocorrendo graças a sua posição “firme, forte”, incluindo-se aí sanções mais duras e ameaças de intervenção militar, caso Pyongyang não desista de seu programa armamentista.
No sábado, Trump disse que ele era “100% a favor das conversações” e que ele esperava desenvolvimentos positivos. Ele disse ainda estar “totalmente” disposto a falar por telefone com Kim Jong-un. “Veja, neste momento eles estão conversando sobre as Olimpíadas. É um começo, um grande começo”, afirmou o presidente americano. “Se algo puder acontecer e algo sair dessas conversações, isso seria ótimo para toda a humanidade, seria ótimo para todo o mundo”, disse Trump.
O encontro ocorre após Kim Jong-un, da Coreia do Norte, usar sua fala de ano-novo para anunciar que ele estava aberto à ideia de enviar uma delegação às Olimpíadas no sul, bem como reduzir as tensões na Península Coreana, apesar de prometer não desistir de seu programa de armas nucleares.
Baek, o porta-voz da Coreia do Sul, disse que outras medidas voltadas à maior cooperação entre as duas Coreias também seriam discutidas. O ministro da unificação sul-coreano, Cho Myong-gyon, disse que sua delegação estava se preparando para discutir a retomada das reuniões entre familiares separados pela Guerra da Coreia — o conflito terminou em 1953 com um cessar-fogo e, tecnicamente, ambas as Coreias seguem em guerra.
Do lado norte-coreano, a delegação será liderada por Ri Son Gwon, presidente do Comitê para a Reunificação Pacífica da Pátria, que é um negociador experiente em assuntos inter-coreanos.