Quatro países e UE oferecem ajuda para combate ao fogo na Amazônia
Governo brasileiro ainda não respondeu às propostas nem anunciou plano de ação: Bolsonaro se mantém em Brasília
Pelo menos quatro governos estrangeiros e a União Europeia (UE) ofereceram ajuda para combater os incêndios na Amazônia brasileira. Até o momento, o governo de Jair Bolsonaro não respondeu às propostas de cooperação e tampouco divulgou as suas próprias ações para apagar as queimadas que atingem a maior floresta tropical do mundo.
Os líderes da Argentina, Chile, Equador e Reino Unido se colocaram à disposição do Brasil e da Bolívia. A Comissão Europeia (CE), órgão executivo da UE, também se manifestou para oferecer ajuda.
“Os incêndios devastando a Floresta Amazônica não são apenas devastadores, são uma crise internacional. Estamos prontos para fornecer qualquer ajuda que pudermos para controlá-los e ajudar a proteger uma das maiores maravilhas da Terra”, escreveu nesta sexta-feira, 23, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, no Twitter.
Mais cedo, a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva, afirmou que o órgão está em contato com as autoridades brasileiras e bolivianas para enviar assistência ou ativar seu sistema de satélites Copérnico, um programa de observação da Terra que proporciona informação para melhorar a proteção do meio ambiente.
Na noite de ontem, o argentino Mauricio Macri também se manifestou e disse que está “alarmado e comovido” pelos incêndios.
“Nosso sistema de emergência está disponível para o Brasil e a Bolívia. Também entrei em contato com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, para acompanhar de perto a gestão de emergências. Estamos comprometidos em ajudar nossos vizinhos a combater incêndios florestais”, escreveu Macri pelo Twitter.
O equatoriano Lenín Moreno também afirmou ter discutido a questão com Bolsonaro. O presidente colocou um avião com três brigadas de especialistas em incêndios florestais e pesquisas ambientais à disposição do Brasil.
Por fim, o presidente do Chile, Sebastian Piñera, também afirmou ter oferecido a ajuda de seu país a Bolsonaro e ao boliviano Evo Morales para combater as queimadas.
Nesta sexta, o presidente brasileiro disse que a “tendência” é editar um decreto de garantia da lei e da ordem (GLO) para enviar militares das Forças Armadas para combaterem os incêndios na Amazônia, mas nada oficial foi anunciado até agora. Bolsonaro ainda não se moveu de Brasília em direção à floresta amazônica para avaliar o alcance dos incêndios.
A agenda do presidente, porém, prevê uma reunião em Brasília com os ministros Fernando Azevedo (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Jorge Antonio de Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), além do secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini, para tratar do assunto.
Na madrugada desta sexta, a Bolívia recebeu o maior avião-cisterna do mundo, um Boeing 747 Supertanker, que será utilizado durante pelo menos dez dias para combater os incêndios que também atingem a parte da Floresta Amazônica do país,
Segundo Evo Morales, que sobrevoou duas vezes áreas atingidas da floresta boliviana, diferentes instâncias dos governos nacional e regionais estão mobilizadas “para preservar a vida e a Mãe Terra”.
A aeronave tem capacidade para despejar 150.000 litros de gel, espuma ou água em uma área de três quilômetros de extensão e uns 50 metros de largura em uma só ação, segundo as autoridades bolivianas. O Supertanker reforçará o trabalho atualmente desempenhado por três helicópteros do Exército boliviano.
O último relatório do governo boliviano sobre os incêndios, realizado na quinta-feira passada, informa que pelo menos 1.817 famílias e mais de 700.000 hectares foram afetados pelos incêndios na região de Chiquitania, um dos polos turísticos da Bolívia onde estão as missões jesuíticas, patrimônio da Unesco.
Pressão internacional
A pressão internacional sobre o Brasil aumentou após a divulgação de informações sobre o aumento das queimadas na Amazônia. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas tiveram um acréscimo de 82% de janeiro a agosto de 2019 ante o mesmo período do ano passado. Esta é a maior alta no índice em sete anos.
Segundo especialistas, a alta de incêndios está relacionada ao desmatamento promovido para a criação de pastagens e lavouras, uma vez que neste ano não houve um período de seca tão intenso como nos anos anteriores.
Nesta sexta, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou sua oposição ao acordo de livre-comércio assinado entre a UE e o Mercosul, após Bolsonaro ter mentido sobre seus compromissos com o meio ambiente.
Fechado em junho deste ano, depois de mais de 20 anos de negociação, o pacto prevê a implementação das medidas previstas pelo Acordo de Paris sobre o clima, que inclui, entre outros temas, o combate ao desmatamento e à redução da emissão de gases do efeito estufa.
Ontem, Macron já havia se manifestado sobre a questão, e pediu que os incêndios fossem discutidos na reunião de cúpula do G7, que será realizada neste final de semana em Biarritz, na França. A posição do francês foi apoiada por outros líderes europeus, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e pelo primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Além da França, a Irlanda também se manifestou contra o acordo de livre-comércio fechado entre o Mercosul e a União Europeia em junho deste ano.
Já o governo da Finlândia, que atualmente detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu que os países do bloco avaliem a possibilidade de banir a importação de carne bovina do Brasil por causa da devastação causada pelas queimadas na Amazônia.
Ao responder aos comentários do presidente francês na quinta-feira, Jair Bolsonaro acusou Macron de querer “instrumentalizar” o assunto “para ganhos políticos pessoais”. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI”, escreveu no Twitter.
Na quarta-feira 21, Bolsonaro chegou a insinuar que os incêndios na Amazônia têm sido provocados por ONGs com o intuito de prejudicá-lo.