O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira, 7, que deseja discutir a reabertura de um acordo mediado pelas Nações Unidas que permite que a Ucrânia exporte seus grãos via Mar Negro, após acusar Kiev e o Ocidente de usar a medida para enganar países em desenvolvimento e Moscou.
Segundo o líder russo, o acordo estaria sendo usado para enviar grãos, fertilizantes e produtos relacionados à União Europeia e à Turquia, ao invés de países pobres, como previsto no texto. Sem um acordo, segundo ele, haveria uma “catástrofe humanitária sem precedentes“.
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“Me encontrei com líderes da União Africana, com líderes de países africanos, e prometi que faria tudo o possível para garantir seus interesses e facilitar a exportação de grãos ucranianos”, disse Putin a um fórum econômico em Vladivostok, no extremo leste russo.
Se envios para a Turquia como um país intermediário foram excluídos, segundo o presidente russo, apenas 2 dos 87 passaram sob o Programa Mundial de Alimentos, vinculado à ONU, representando apenas 60.000 toneladas, ou 3% do total de 2 milhões de toneladas exportados até agora.
Segundo a ONU, 88 navios já saíram ou estão programados para sair da Ucrânia sob o acordo até o momento. Destes, dois foram navios do Programa Mundial de Alimentos: um com destino a Djibuti e outro para o Iêmen.
Do total de navios, a maior parte dos grãos, 368.407 toneladas, foi ou deve ser enviado à Turquia. Em torno de 757.697 toneladas no total estão listadas para membros da União Europeia, enquanto alguns envios também tenham como destino países incluindo China, Índia, Irã, Egito e Sudão.
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“Estamos honrando o acordo. Mas para que o Ocidente realmente nos enganou, e não só nós, mas também os países mais pobres cujos interesses foram o pretexto para fazer tudo isso”, afirmou.
O entendimento, mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia em julho, criou um corredor de proteção para exportações via Mar Negro para grãos ucranianos, após Kiev perder acesso à principal rota de exportação quando a Rússia invadiu seu território, em 24 de fevereiro, e atacou por mar, terra e ar.
Segundo a Ucrânia, os termos do acordo estão sendo cumpridos corretamente e não há motivos para renegociá-lo.
As críticas feitas nesta quarta-feira, no entanto, levantam temores de que o pacto possa ser desfeito se não for renegociado com sucesso, o que colocaria pressão sobre o sistema alimentar global. A invasão da Ucrânia por Moscou e as sanções econômicas internacionais à Rússia interromperam o fornecimento de fertilizantes, trigo e outras commodities de ambos os países, elevando os preços de alimentos e combustíveis, especialmente nos países em desenvolvimento. Juntas, as nações em guerra produzem 30% do trigo do mundo.
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Antes da invasão em fevereiro, a Ucrânia era vista como a “cesta de pão do mundo”, exportando 4,5 milhões de toneladas de produtos agrícolas por mês em seus portos – 12% do trigo do planeta, 15% do milho e metade do óleo de girassol.
Isso fez com que os preços de produtos básicos disparassem. Pouco depois da invasão, o índice de preços de alimentos e agrícolas das Nações Unidas atingiu uma alta histórica de quase 160 pontos em março, antes de cair um pouco em abril, para 158,8. Preços de cereais e carnes também atingiram recordes em março: há um ano, o trigo era negociado na Bolsa de Chicago a 674 centavos de dólar por bushel e hoje alcança 1.242 centavos de dólar – quase o dobro –, impulsionado pela falta de oferta.