O presidente da Rússia, Vladimir Putin, completou 70 anos nesta sexta-feira, 7, em meio a cumprimentos bajuladores de subordinados e um apelo do líder ortodoxo cristão do país para que todos rezem pela saúde do líder mais longevo desde Josef Stalin (1941-1953).
O momento, no entanto, não é de comemoração. Atualmente, Putin enfrenta o maior desafio de seu governo depois que a invasão à Ucrânia desencadeou o mais grave confronto com o Ocidente desde a crise dos mísseis em 1962, quando o país ainda fazia parte da União Soviética.
Além disso, o Exército russo sofre com uma série de derrotas para os militares ucranianos, o que tem levantado críticas de conservadores e trazido incerteza quanto ao futuro da guerra.
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Autoridades nacionais saudaram Putin nesta sexta como o salvador da Rússia moderna, enquanto o Patriarca de Moscou, o bispo ortodoxo cristão Cirillo I, pediu à população que fizesse dois dias de orações especiais para que “Deus dê ao presidente saúde e longevidade”.
“Nós oramos a você, nosso Senhor Deus, pelo chefe do Estado russo e pedimos que você dê a ele sua rica misericórdia e generosidade, conceda-lhe saúde e longevidade, e liberte-o de todas as resistências visíveis e invisíveis do inimigo”, disse ele.
Críticos de Putin, no entanto, dizem que a nação se encontra num beco sem saída em direção à ruína. Até nacionalistas pró-guerra afirmam que o líder do Kremlin deveria tomar medidas mais contundentes no conflito, como o uso de armas nucleares táticas, e que elogios a ele denunciam um sistema frágil de bajuladores que deve entrar em colapso.
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Ao mesmo tempo, apoiadores fervorosos do presidente declaram que suas ações são responsáveis por salvar a Rússia da destruição por um Ocidente arrogante e agressivo.
“Hoje, nosso líder nacional, uma das personalidades mais influentes e destacadas do nosso tempo, o patriota número 1 do mundo, o presidente da Federação Russa, Vladimir Vladimirovitch Putin, completa 70 anos”, disse o líder checheno Ramzan Kadyrov, completando que ele foi o responsável pela mudança da posição global do país.
Apesar dos elogios, as constantes derrotas têm obrigado Putin a se desdobrar para manter o apoio da população ao conflito. Passados mais de sete meses desde o início da guerra, o Exército russo acumula uma série de reveses humilhantes que culminam na perda de vários territórios.
Em uma tentativa de mudar o jogo, Putin chegou a anunciar uma mobilização parcial que prevê a convocação de 300 mil reservistas e proferiu uma ameaça velada de que poderia utilizar armas nucleares para alcançar seus objetivos. Em movimento mais recente, anunciou também formalmente a anexação das quatro províncias separatistas de Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk.
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No entanto, nada disso trouxe o resultado esperado. A mobilização foi recebida de maneira negativa em todo o país e provocou uma série de protestos e fugas de homens do serviço militar. Além disso, grande parte dos convocados está sendo dispensada por não ter treinamento suficiente para ir à Ucrânia, e o Exército no país não consegue manter as fronteiras preestabelecidas na anexação.
Vladimir Putin está no comando da Rússia há quase 23 anos, tendo sido escolhido a dedo pelo ex-presidente Boris Yeltsin em um anúncio-surpresa na véspera de Ano-Novo de 1999. Por meio de mudanças na Constituição feitas por seu governo em 2020, ele pode permanecer no cargo até pelo menos 2036, ao mesmo tempo que nenhum candidato tem influência suficiente – ou espaço, em meio à ampla repressão da oposição – para derrotá-lo.
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Apesar da idade, ele mantém uma agenda cheia e segue à frente de quase todos os assuntos do governo, participando ativamente de reuniões e discussões.
À medida que envelhece, Putin parece preocupado com o seu legado. No começo da guerra, ele chegou a se comparar com o czar Pedro, o Grande, dizendo que ambos estavam envolvidos em missões históricas para reconquistar terras russas.