Ao menos 45 pessoas já morreram desde o início das manifestações pela prisão do ex-presidente Jacob Zuma na África do Sul. Destas, dez foram mortas na noite da última segunda-feira após saques a um shopping center na cidade de Soweto, a maior do país.
Os protestos pró-Zuma tiveram início na última quinta-feira, 8, de modo pacífico e se tornaram violentos desde o final de semana. Até o momento, quase 800 pessoas já foram detidas e o governo enviou o exército para conter os protestos.
O atual presidente Cyril Ramaphosa classificou o momento como um dos mais violentos já vivenciados na África do Sul desde os anos 1990, antes do fim do apartheid, com incêndios, saques e rodovias bloqueadas em algumas regiões do país.
O ministro da Polícia disse a jornalistas nesta terça-feira, 13, que se os saques continuarem as regiões de risco podem ficar sem alimentos básicos. No entanto, o ministro da Defesa sul-africano afirmou que ainda não há motivos para decretar estado de emergência no país.
De acordo com a imprensa local, há registros de roubos e saques a shoppings, lojas de bebidas, ambulâncias e até mesmo a gado na região de KwaZulu-Natal. Segundo a mídia local, ainda que alguns manifestantes tenham sido capturados, o número de soldados e policiais é muito menor.
As autoridades sul-africanas acusam alguns grupos da população de se infiltrarem nas manifestações a favor do ex-presidente para cometer crimes, enquanto outros afirmam que a origem do caos se deu por conta dos índices de fome e desemprego do país.
Há ainda a preocupação com a disseminação de notícias falsas que podem estar incitando ainda mais os protestos. O Congresso Nacional Africano (CNF), partido do governo, disse estar analisando publicações no Twitter feitas pela filha de Jacob Zuma, Duduzile Zuma-Sambudla.
A ministra de Segurança do Estado, Ayanda Dlodlo, disse que o governo está empenhado em separar as informações falsas das verdadeiras, principalmente após receber informações de que ex-agentes de segurança ligados a Zuma estariam ligados à escalada da violência.
Jacob Zuma, de 79 anos, foi condenado no final do mês passado por desafiar uma ordem do tribunal constitucional para depor em um inquérito que investigava corrupção de alto nível durante seus nove anos no cargo, que ocupou até 2018.
A decisão de prendê-lo resultou de procedimentos legais vistos como um teste à capacidade da África do Sul pós-apartheid de fazer cumprir o Estado de Direito, inclusive contra políticos poderosos.
Zuma já havia sido preso pelos governantes de minoria branca antes de 1994 por seus esforços para tornar todos os cidadãos iguais perante a lei, fato que o eleva à condição de herói nacional por parte da população.
Além de sua prisão, os baixos níveis de renda e o desemprego — 32,6% entre a força de trabalho e 46,3% entre os jovens — são vistos como estopim para a crise atual.
Outro fator preponderante tem sido a atuação de Ramaphosa para lidar com a crise. Para muitos, o atual presidente demorou em mobilizar tropas para lidar com os protestos naquele que é o maior desafio desde que assumiu o cargo, em 2018.