Ao menos 78 pessoas morreram em protestos na Etiópia na semana passada, informou o gabinete do premiê Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz de 2019, nesta quinta-feira, 31. A população foi às ruas contra o tratamento dado pelo governo a um ativista de renome, Jawar Mohammed.
A porta-voz de Ahmed, Billene Seyoum, uma autora-referência em igualdade de gênero, informou também que 409 pessoas foram detidas devido aos tumultos. Segundo ela, as investigações ainda estão em andamento e, portanto, o número de mortos e detidos pode aumentar.
O primeiro-ministro foi recebido nesta quinta-feira por 700 manifestantes ao som de vaias durante uma visita a Ambo, cidade a 100 quilômetros da capital Adis Abeba, palco de episódios anteriores de violência. Apoiadores do ativista Mohammed, reunidos diante da prefeitura de Ambo, bradaram “Fora, Abiy” e “Estamos com Jawar, Jawar é nosso herói”. O primeiro-ministro deixou a reunião antes do final e foi retirado de Ambo em um helicóptero com um forte esquema de segurança.
Ninguém se feriu nesta quinta-feira, mas na semana passada 78 civis morreram em “um ato muito insensato de violência” nas regiões de Oromiya e Harari e em Dire Dawa, cidade do leste do país, , segundo Seyoum.
A manifestação foi contra o tratamento que Mohammed recebeu depois de denunciar que o governo retiraria o esquema de segurança de sua casa, em Adis Abeba, capital do país, ameaçando sua integridade física. Multidões de jovens do grupo étnico oromo logo direcionaram sua revolta contra Abiy, que é da mesma etnia, dizendo que ele os traiu ao maltratar o ativista.
Desde sua nomeação, Abiy implantou reformas políticas abrangentes que lhe renderam prestígio internacional, mas também deu espaço a tensões longamente reprimidas entre os muitos grupos étnicos nacionais. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz neste mês por fazer as pazes com a Eritreia, inimiga de longa data da Etiópia.
Até as eleições do ano que vem, Abiy terá que equilibrar as liberdades políticas crescentes e líderes autoritários que investem em bases de poder étnicas exigindo mais acesso a terras, poder e recursos para seus grupos.
(Com Reuters)