Programa de anistia de impostos na Argentina atrai US$ 18 bilhões em depósitos
Plano visa trazer de volta à economia do país os dólares que argentinos mantêm fora do sistema bancário, seja em casa ou em contas no exterior
O programa de anistia fiscal lançado pelo presidente Javier Milei na Argentina arrecadou cerca de US$ 18 bilhões em depósitos até o prazo inicial, que se encerrou nesta quinta-feira, 31. Essa mudança no comportamento dos argentinos, que tradicionalmente guardam dólares em espécie, reflete um voto de confiança no governo e nas medidas implementadas até agora.
Lançado no início do ano, o plano visa trazer de volta à economia do país os dólares que os argentinos mantêm fora do sistema bancário, seja em casa ou em contas no exterior. Milei, que adotou políticas de austeridade, tem conseguido reduzir a inflação mês a mês para números de um dígito. A inflação anual, no entanto, permanece nos três dígitos.
Em coletiva de imprensa nesta quinta, o porta-voz de Milei, Manuel Adorni, classificou a anistia fiscal como um “sucesso”.
Desde o início do programa, os depósitos em contas bancárias privadas denominadas em dólares na Argentina aumentaram para US$ 32,5 bilhões, segundo estimativas de analistas. Esse crescimento representa um impulso adicional além do que a anistia oferece.
Na primeira fase da anistia, os cidadãos podem trazer de volta até US$ 100.000 ao sistema sem pagar impostos; valores acima desse limite são tributados em 5%. Essa alíquota aumentará para 10% até o final de janeiro e para 15% até abril.
Estimativas indicam que os argentinos mantêm cerca de US$ 277 bilhões fora do sistema bancário formal em 2024.
O corte de gastos e o ajuste das contas públicas estão no foco de Milei, que afirma que, melhorando a parte fiscal, a economia argentina dará mais confiança aos investidores, destravando investimentos privados. Desde que assumiu o poder, em dezembro do ano passado, o índice mensal de preços do país caiu dos 25,5% para 4,2% em agosto deste ano, uma desaceleração que tem sido um dos trunfos da gestão.
Para a população, no entanto, os índices são desanimadores. O número de argentinos que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou no primeiro semestre deste ano e chegou a 15,7 milhões de pessoas, segundo levantamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos do país divulgado em agosto.
A pesquisa, que abrange 31 aglomerados urbanos da Argentina, aponta que mais da metade da população está em situação de pobreza, cenário que abrange 4,3 milhões de famílias — 42,5% do total do país.