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Príncipe saudita diz que morte de jornalista aconteceu ‘sob sua guarda’

Mohammed bin Salman assumiu responsabilidade no assassinato de Jamal Khashoggi, mas negou ter conhecimento prévio ou envolvimento direto no caso

Por Estadão Conteúdo 27 set 2019, 01h33

Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, suspeito de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, no ano passado, disse nesta quinta-feira, 26, ter responsabilidade pela morte porque ela aconteceu “sob sua guarda”.

A declaração foi dada para um documentário do canal americano PBS que vai ao ar na próxima semana. Salman, no entanto, nega qualquer conhecimento prévio ou envolvimento direto no assassinato.

“Aconteceu sob minha guarda. Eu assumo toda a responsabilidade, porque aconteceu sob minha guarda”, disse o príncipe, também conhecido como MBS, de acordo com uma prévia do programa programado para o dia 1.º de outubro, véspera do aniversário de um ano da morte do jornalista saudita.

Khashoggi era colunista do jornal The Washington Post. Ele foi assassinado dentro do Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.

O assassinato provocou uma violenta reação mundial contra o regime saudita, manchando a imagem do príncipe herdeiro e ameaçando os planos do país, o maior exportador de petróleo do mundo, de diversificar sua economia.

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Após negar inicialmente qualquer participação na morte de Khashoggi, a narrativa oficial saudita mudou e o governo passou a atribuir a responsabilidade a agentes que agiram sem o conhecimento da monarquia – possibilidade que muitos analistas descartam em razão do grau de centralização política que existe no país.

Segundo o promotor responsável pelo caso, o então vice-diretor dos serviços de inteligência da Arábia Saudita ordenou o repatriamento de Khashoggi, que era uma pessoa próxima à família real e acabou se tornando um crítico ferrenho do governo.

No entanto, Saud al-Qahtani, negociador principal do governo saudita, teria ordenado sua morte após as negociações para sua volta fracassarem. Qahtani, ex-consultor da realeza, teria dado ordens por Skype para os assassinos e informado sobre as atividades do jornalista antes da operação, segundo o procurador.

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De acordo com o jornalista Martin Smith, da PBS, que fez a entrevista, quando questionado sobre como o assassinato poderia ter acontecido sem seu conhecimento, MBS colocou a culpa na burocracia do Estado. “Temos 20 milhões de habitantes. Temos 3 milhões de funcionários do governo”, afirmou.

Quando Smith perguntou se os assassinos poderiam ter utilizado jatos privados do governo, o príncipe herdeiro também terceirizou a culpa. “Eu tenho funcionários, ministros para acompanhar as coisas e eles são responsáveis. Eles têm autoridade para fazer isso.”

Em junho, um alto funcionário do governo dos EUA disse que o presidente americano, Donald Trump, estava pressionando a Arábia Saudita por um “progresso tangível” para que os responsáveis pelo assassinato fossem punidos.

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Até agora, 11 suspeitos estão sendo julgados sob sigilo, mas apenas algumas audiências foram realizadas. Em junho, a ONU divulgou um relatório em que diz ter encontrado “provas confiáveis” do envolvimento do príncipe herdeiro na morte de Khashoggi, classificando o crime como “um assassinato extrajudicial pelo qual o Estado da Arábia Saudita é responsável sob a lei internacional dos direitos humanos.”

Khashoggi vivia nos EUA, o que aumentou ainda mais a pressão para que Trump adotasse algum tipo de sanção. O presidente, no entanto, preferiu preservar os laços comerciais com os sauditas. Em 2017, os americanos fecharam um acordo para a venda de US$ 110 bilhões em armas para a Arábia Saudita – o valor subiria para US$ 350 bilhões em dez anos.

Khashoggi, de 59 anos, foi visto pela última vez entrando no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2 de outubro, onde buscava documentos necessários para que pudesse se casar. De acordo com informações da polícia turca, ele foi brutalmente torturado antes de morrer.

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Seu corpo foi desmembrado, cortado em pedaços e dissolvido em ácido. O objetivo, segundo investigações da Turquia, era não deixar vestígios do cadáver e retirá-lo com mais facilidade do prédio do consulado. Seus restos mortais não foram encontrados.

Câmeras de segurança e registros de entrada no aeroporto de Istambul identificaram um comando de aproximadamente 15 agentes que teriam sido enviados pelo governo saudita, a maioria fazia parte do círculo pessoal do príncipe herdeiro.

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