O extremista Zahran Hashim, considerado o mentor dos atentados do Domingo de Páscoa no Sri Lanka, morreu no ataque a um dos hotéis de luxo de Colombo, informou nesta sexta-feira, 26, o presidente Maithripala Sirisena. O governante também anunciou a demissão do chefe da polícia nacional por ignorar os alertas sobre as ameaças terroristas, enviados horas antes das explosões.
Segundo o líder, a morte de Hashim no hotel Shangri-La foi confirmada pelos serviços de inteligência do país. O extremista era o comandante do National Thowheeth Jama’ath (NTJ), grupo terrorista local responsabilizado por executar os atentados, e já apareceu em um vídeo divulgado pelo Estado Islâmico (EI), que reivindicou a autoria dos ataques.
Nas imagens, ele comanda sete homens em um juramento de lealdade ao chefe do grupo jihadista, Abu Bakr al Bagdadi. As autoridades do país procuravam Hashim os ataques simultâneos do domingo 21, que atingiram três hotéis de luxo, três igrejas e um condomínio residencial da capital.
Os atentados, executados por nove suicidas, deixaram 253 mortos, uma contagem revisada na quinta-feira 25 depois da divulgação de um balanço anterior com 359 vítimas.
Sirisena informou ainda que um “alerta bastante detalhado” sobre a possibilidade de um ataque foi enviado por uma nação aliada, supostamente a Índia, no dia 4 de abril, dezessete dias antes do ataque, mas reiterou nunca ter sido informado sobre isso.
“Nem o IGP (inspetor geral da polícia), nem o secretário de defesa me informaram sobre este relatório dos serviços de inteligência”, declarou o presidente. “Não estou dizendo isto para me abster de qualquer responsabilidade. São apenas os fatos.”
Em meio às revelações sobre a negligência das forças de segurança, o principal comandante de polícia do Sri Lanka, o IGP Pujith Jayasundara, pediu demissão. E, na quinta-feira 25, o principal funcionário do ministério da Defesa também renunciou ao cargo. “Eu pedi a ambos que pedissem demissão, enquanto acontece uma investigação disciplinar”, afirmou o presidente na entrevista desta sexta.
Segurança enfraquecida
O líder do Sri Lanka também criticou as investigações sobre os crimes contra a humanidade durante a guerra civil no país. Sirisena afirmou que os processos da Justiça contra autoridades dos serviços de segurança “enfraqueceram” suas instituições e aumentaram a vulnerabilidade a ataques como o de domingo.
A Guerra Civil do Sri Lanka se estendeu por 26 anos, de 1983 a 2009. O governo do país enfrentou os Tigres do Tâmil (TLLE), uma organização armada separatista que lutava pela criação de um Estado independente, o Tamil Eelam, ao norte e ao leste da nação insular.
Mais de 70.000 pessoas morreram na guerra, segundo dados oficiais. Autoridades dos serviços de defesa e inteligência do país asiático já foram considerados suspeitos em investigações de crimes como o desaparecimento de onze jovens em setembro de 2008 e o assassinato do jornalista Lasantha Wickrematunge, em janeiro de 2009.
Sirisena afirmou que, apesar disso, confia nas forças de segurança locais para “dar fim” aos mais de 140 militantes do Estado Islâmico que estão no Sri Lanka. Segundo o chefe de Estado, cerca de setenta deles já foram presos nas últimas batidas policiais, incluindo o pai de dois dos homens-bomba. “Eu vou eliminar o Estado Islâmico do Sri Lanka”, declarou ele. “Nossa polícia e nossas forças de segurança são capazes de fazer isso.”
Vários países recomendaram que seus cidadãos não visitem o Sri Lanka no momento, um duro golpe para a indústria turística, pilar importante da economia local.
Troca de identidade
Na quinta-feira 25, a polícia também publicou os nomes e as fotos de seis dos suicidas: três homens e três mulheres. Mas em um erro embaraçoso, poucas horas depois da divulgação, as autoridades emitiram uma errata admitindo que a fotografia que acompanhava o nome de uma das suspeitas era incorreta.
O nome estava certo, mas o retrato era de uma ativista muçulmana americana.
No mesmo dia, o ministro de Assuntos Muçulmanos do Sri Lanka, Abdul Haleem, fez um apelo para que as mesquitas cancelassem as orações desta sexta, o dia sagrado na semana muçulmana, em solidariedade à Igreja Católica, que suspendeu todas as cerimônias públicas por medo de novos ataques.
As comunidades muçulmanas expressaram o temor de uma reação violenta, apesar de seus líderes terem condenado os atentados. O governo defendeu a unidade nacional e pediu tolerância com a população islâmica mas, apesar das falas, um grupo de refugiados muçulmanos de Negombo, onde fica uma das igrejas atacadas, teve de fugir de casa depois de receber ameaças, afirmaram ativistas dos direitos humanos.
(Com AFP)