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Presidente checo exibe AK-47 falsa designada ‘para jornalistas’

Milos Zeman falou à imprensa logo antes das eleições legislativas do país que deram uma vitória folgada ao milionário Andrej Babis

Por Da redação
23 out 2017, 18h45

O controverso presidente da República Checa, Milos Zeman, protagonizou um novo capitulo em sua guerra contra a imprensa na última sexta-feira, quando, durante uma entrevista coletiva, exibiu uma réplica de um rifle AK-47 com a intimidadora inscrição “para jornalistas” gravada na arma. No lugar da munição, o rifle trazia uma garrafa de licor checo.

A conferência aconteceu logo antes das eleições legislativas do país, que deram uma vitória folgada ao milionário Andrej Babis, partidário de Zeman e amplamente comparado ao presidente americano Donald Trump, também afeito a ferozes bravatas contra a imprensa.

O presidente checo, no entanto, tem superado a hostilidade de Washington no tom de suas ameaças veladas. Em maio, ‘brincou’ com o presidente russo Vladimir Putin ao afirmar durante um evento que alguns jornalistas deveriam ser “liquidados”. “Talvez não liquidá-los, mas torná-los irrelevantes”, respondeu o russo na época.

A encenação de Zeman, que está no cargo desde 2013, gerou indignação especial porque aconteceu poucos dias após o assassinato da jornalista investigativa Daphne Caruana Galizia em Malta abalar a Europa.

Apesar de ocupar um cargo essencialmente cerimonial e de a entrevista ter ocorrido antes da divulgação dos resultados da eleição, Zeman afirmou que iria nomear no sábado Babis o primeiro-ministro checo. Sem poderes para realizar mudanças legislativas que restrinjam a liberdade de imprensa, Zeman conta com Babis, segundo homem mais rico do país e dono de dois dos principais jornais locais e de uma estação de rádio, para avançar na tentativa de controle da mídia.

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Eleições                                                                                                      

Contrário a abrir as portas à imigração e à ingerência europeia, partido de Babis, ANO (“sim” em checo), venceu com folga as eleições legislativas, segundo os resultados definitivos da votação, divulgados no sábado.

Apesar de Babis ter sido destituído em maio como ministro das Finanças por suspeita de  fraude e evasão fiscal,  seu partido fez da luta contra a corrupção uma de suas principais bandeiras, juntamente com o posicionamento contra o acolhimento dos refugiados e contra a zona do euro. Nas eleições, obteve 29,7% dos votos, o que lhe dará 78 assentos de um total de 200 no Parlamento. O ANO foi seguido por três partidos com resultados quase idênticos, que Babis poderá escolher para fazer alianças: ODS (direita) com 11,3%, Partido Pirata (antissistema) com 10,8% e o SPD (extrema-direita), do checo-japonês Tomio Okamurae, com 10,7%.

O partido social-democrata CSSD, do atual primeiro-ministro, Bohuslav Sobotka, registrou uma forte queda, e ficou para trás junto com o Partido Comunista KSCM, os cristão-democratas do KDU-CSL e o movimento STAN (agrupação de prefeitos independentes e personalidades regionais).

O cientista político Michal Klima, da Universidade Metropolitana de Praga, comentou ao canal público CT24 que com esta vantagem o movimento de Babis “poderá escolher quatro ou cinco outros partidos ou poderá inclusive criar uma coalizão com duas formações” para governar.

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ANO e SPD poderiam somar, juntos, 108 assentos na Câmara Baixa, segundo os resultados.

Campanha de desinformação

“Estamos entusiasmados. Agradecemos aos 1,5 milhão de eleitores, que superam nossas expectativas, pois houve uma campanha de desinformação maciça contra nós”, afirmou Babis em uma coletiva de imprensa. Em várias oportunidades, ressaltou que é “pró-europeu”. “Não sei por que alguém disse que nós estamos contra a Europa”, acrescentou. “Não somos uma ameaça para a democracia”.

“Estamos prontos para lutar pelos nossos interesses em Bruxelas, somos parte integrante da União Europeia (EU) e da OTAN“, afirmou. Também convidou a UE a “refletir” e a “parar de falar de uma Europa em duas velocidades”.

Antes dos resultados, o primeiro-ministro social-democrata, Bohuslav Sobotka, tinha expressado sua inquietação sobre as relações com o Ocidente com a nova situação política no país. “As eleições vão decidir a orientação do nosso país, se continuaremos sendo membros da União Europeia e da OTAN, se esses extremistas que tentarão nos tirar dessas estruturas que garantem nossa segurança, estabilidade e prosperidade se fortalecerão”, disse depois de votar.

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O euroceticismo, com distintos graus, parece ser, portanto, o denominador comum de vários partidos checos. O checo-japonês Okamura, firme opositor à integração europeia e à imigração, aproveitou uma corrente de opinião presente em toda a Europa do Leste. Mas segundo Pavel Saradin, analista da Universidade Palacky de Olomouc, a entrada do SPD no futuro governo de coalizão é “pouco provável”.

Fundador da gigante agroalimentar, química e midiática Agrofert, Babis, de 63 anos, fez campanha contra a corrupção e prometeu aos checos “uma nova etapa” e uma maior atenção “aos verdadeiros problemas das pessoas”. Mas com um panorama político fragmentado, a configuração da futura coalizão que Babis deverá formar é difícil de prever.

Mais ainda tendo em conta que alguns partidos políticos condicionaram sua participação em uma aliança à renúncia de Babis, fundador e carismático dirigente do ANO, a ser primeiro-ministro. Uma condição que o líder populista não tem nenhuma intenção de aceitar.

Babis reiterou, na véspera dos comícios, sua oposição ao acolhimento de migrantes e à zona do euro, embora não tenha defendido uma saída da União Europeia, na qual seu país entrou em 2004 sem abrir mão da sua moeda nacional, a coroa.

(com AFP)

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